Os cristãos devem estar atentos para não ceder aos ensinos dos falsos profetas. Ao longo da história, Deus tem mostrado o caminho correto para o ser humano.
Jesus repreendeu a igreja de Tiatira por ser tolerante com algo que não deveria: “você tolera [aphíēmi] Jezabel, aquela mulher que se diz profetisa. Com os seus ensinos [didáskō], ela induz [planáō] os meus servos à imoralidade sexual e a comerem alimentos sacrificados aos ídolos” (Apocalipse 2:20).
Dentre outros significados, a palavra grega aphíēmi indica uma permissão, um “deixar ir” sem oposição. É uma tolerância conivente, e, nesse caso, o ambiente é a igreja. É um ensino bíblico básico que diz que, entre os crentes, há lobos devoradores e falsos mestres, mas em lugar algum é dito que eles devam ser tolerados.
Não sabemos quem foi essa falsa profetisa da época de João, mas sabemos quem foi a Jezabel original e o que ela representa aqui: uma péssima influência, uma ameaça interna.
Como age a ameaça interna
Jezabel “ensina e seduz” (2:20 BJ). O ensino (didáskō) é uma atividade de Jesus e de sua igreja, mas também dos falsos profetas. Jezabel tem “doutrinas”, os “profundos segredos de Satanás” (2:24); e, no contexto, a igreja de Pérgamo também foi repreendida por ser conivente com falsos ensinos de “Balaão” e dos “nicolaítas” (2:14-15). Na verdade, é impossível viver sem doutrinas. Todos temos doutrinas, e a ideia de que doutrinas não importam já é uma doutrina! Jezabel também seduz e engana (planáō), fazendo a mesma obra de Satanás (12:9; conferir 20:3, 8, 10), da segunda besta (13:14) e do “falso profeta” (19:20). Ela não é inofensiva!
Há espaço, na igreja, para a tolerância redentora entre seres humanos imperfeitos. Porém, uma coisa é o erro ocasional, outra, bem diferente, é a rebelião, defendida abertamente. A misericórdia e a graça do Senhor nos dão arrependimento e acesso ao perdão. Mas não brinque com o espírito de Jezabel.
Uma igreja amorosa tolera tudo?
Deus não é tolerante com tudo, e nem seus filhos deveriam ser. Existem juízos que só Deus pode fazer, mas existem outros que, segundo a Bíblia, a igreja deve fazer (1 Coríntios 5:11-13). Diante da notória ameaça de Jezabel, não é hora de aplicar o conselho tolerante de Gamaliel: “deixem esses homens em paz e soltem-nos [aphíēmi]” (Atos 5:38). Algumas situações exigem um alto e claro “enfrentai-o!” (Mensagens escolhidas, v. 1, p. 205-206).
Devemos amar o que Deus ama, e odiar o que Deus odeia. A igreja de Éfeso foi elogiada por odiar “as práticas dos nicolaítas, como eu também as odeio” (Apocalipse 2:6). Isso em nada invalida o amor. Pelo contrário, quem ama, automaticamente odeia: “O amor deve ser sincero; odeiem o que é mau” (Romanos 12:9).
A igreja de Tiatira amava (“conheço […] o seu amor”; 2:19), mas a sua tolerância nada tinha a ver com o amor, e sim com a infidelidade. Tolerar imoralidade sexual e idolatria na igreja não é manifestação de amor. Como a igreja de Tiatira não resolveu o problema, o Senhor teve que intervir duramente.
Jesus deu a ela tempo para se arrepender, mas ela não quis. Por isso, promete castigá-la, juntamente com quem se envolve com ela (2:21-23). Sim, Jesus repreende e disciplina, e ele não está brincando com a tolerância.
Quem resiste à Jezabel?
Os que “não seguem a doutrina dela” (2:24). Em Tiatira, havia um remanescente, e Jesus os incentiva: “apeguem-se com firmeza ao que vocês têm, até que eu venha” (2:25). A igreja não está autorizada a tentar ser mais tolerante do que Jesus, amando o que ele odeia e odiando o que ele ama.
Jezabel pode estar confortável numa sociedade que defende o pluralismo nos sistemas de crenças e o relativismo ético. Mas ela jamais deveria se sentir confortável na igreja de Jesus. Deus nos guarde de ser Jezabel.