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A reinvenção do cotidiano

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Ao longo do tempo, as doenças infecciosas têm mudado a sorte de impérios, tirado cidades do mapa e redefinido conceitos religiosos. ­Muitas pragas efetivamente alteraram o rumo da história. O problema era tão sério que, na primeira metade do século 20, o bacteriologista Hans Zinsser ironizou: “A doença infecciosa é uma das poucas aventuras genuínas deixadas no mundo. Os dragões estão todos mortos e a lança está enferrujando no canto da chaminé” (Rats, Lice and History [Black Dog & Leventhal, 1935], p. 13).

Então, aparentemente, a situação ficou mais tranquila. Parecia que estávamos ganhando a guerra. “Pela primeira vez na história, parasitas, vírus, bactérias e outras doenças infecciosas não são a principal causa de morte e incapacitação em nenhuma região do mundo”, observou recentemente o especialista em saúde global Thomas J. Bollyky (Plagues and the Paradox of Progress [MIT Press, 2018], p. xiii). Seu livro foi classificado pelo jornal Financial Times como “marcante” e pela revista Nature como “um estudo rico e incisivo”.

No entanto, de repente, o novo vírus veio para desafiar nosso progresso. É verdade que vários estudos também haviam alertado sobre a possibilidade de novas pandemias, mas os governantes não levaram a sério as advertências. E aconteceu o que aconteceu. Mundo parado por um minúsculo vírus (bem, “zilhões” deles), cidades vazias, templos do consumo silenciosos, selfies com Monalisa interrompidas, ritual de despedida negado a muitos, ninguém esteve imune ao caos. A crise acabou revelando o tamanho real das pessoas e nos forçou a repensar a vida e o futuro. Afinal, grandes catástrofes nivelam o mundo, mostram o que tem valor e sinalizam o que é descartável.

Vários filósofos e sociólogos, refletindo sobre o que nos aguarda, sugeriram que precisamos mudar a maneira de viver. Momentos de dissonância cognitiva, em que o discurso conhecido não mais faz sentido, exigem reinterpretações. Alguns ativistas reforçaram o pedido de uma constituição global da Terra como ferramenta de governança, pois, segundo matéria do jornal El País, “crises globais exigem soluções globais”.

Deus nos chamou para ajudar o mundo a entender o que está acontecendo no nível macro

O ponto é que, apesar dos infindáveis estudos científicos, não sabemos o dia em que o inimigo invisível irá embora, nem exatamente o que vai acontecer no pós-pandemia. Em matéria na revista Scientific American, Jessica Hullman argumentou que os modelos matemáticos não são totalmente confiáveis, pois os dados que os alimentam são incompletos, os computadores apresentam simplificações grosseiras das situações reais e existem fatores não mensuráveis, como a reação humana. Assim, a incerteza prevalece.

Felizmente, os cristãos não dependem apenas de matemática ou filosofia para enfrentar o futuro. Temos a Palavra revelada que nos ajuda a vislumbrar o fim desde o princípio, a ir além das manchetes e a caminhar com fé em meio ao medo. Resistindo aos arautos do negacionismo e aos profetas do alarmismo, com suas respostas inadequadas, vimos que é possível criar espaços para iniciativas práticas, assistência pastoral/psicológica inestimável e pensamento teológico sério.

Assim como ocorreu em outras épocas, Deus nos chamou também para ajudar o mundo a entender o que está acontecendo no nível macro e a se preparar para tempos ainda mais difíceis, como as sete pragas finais, tema de capa desta edição. Mas, até lá, devemos viver com total confiança Naquele que segura os ventos e controla todas as coisas. Dias melhores, sem vírus, estão pela frente.

MARCOS DE BENEDICTO é o editor da Revista Adventista

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