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A igreja está fechada, e agora?

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Diante da epidemia fatal que se alastra por praticamente todos os países do globo, as autoridades têm ordenado o fechamento de templos religiosos e de todos os demais locais onde acontece ajuntamento de pessoas. Da noite para o dia, aquilo que só acontecia em nações onde há intolerância religiosa extrema torna-se realidade em todo o planeta. Mesmo nas democracias mais abertas, a liberdade de ir e vir e a liberdade de reunião é restringida como medida de proteção à vida de todos. As igrejas não devem abrir suas portas para a realização de cultos públicos porque qualquer aglomeração de pessoas eleva terrivelmente o risco de contaminação com um vírus novo para o qual ninguém está imunizado nem há remédio eficaz.

Diante desse cenário sem precedentes, que muitos crentes aguardavam apenas para o período da grande tribulação, as perguntas que não querem calar são: O cristianismo sobreviverá sem as igrejas? Os crentes podem manter-se fiéis sem a comunhão com os irmãos? Como acontecerá a evangelização? Como deveremos cumprir a administração das ordenanças bíblicas de agora em diante?

A resposta à primeira pergunta é sim, o cristianismo pode sobreviver sem templos. Aliás, durante seus primeiros séculos, os cristãos não tiveram locais de culto público. Durante as perseguições que a igreja enfrentou ao longo da história, cristãos fiéis à Bíblia congregavam escondidos em catacumbas, cavernas e casas. Mesmos sem poder adorar com as portas abertas e sem formar grandes congregações, os cristãos sobreviveram, cresceram e prosperaram.

Apesar de não poderem congregar, os crentes não viverão de maneira alguma sem a comunhão dos irmãos. A fé cristã é uma fé comunitária. O crente adora e serve a Deus junto com seus irmãos e irmãs de fé. Diante do novo cenário, a comunhão assume outras formas. É preciso novamente lembrar a história de fiéis que se refugiaram em desertos ou passaram anos na prisão, como John  Bunyan, autor de O peregrino, que ficou doze anos na prisão de Bedford, na Inglaterra, condenado por pregar em praça pública; ou Martinho Lutero, isolado nove meses no castelo de Wartburg, tempo em que traduziu para o alemão o Novo Testamento. Sem a possibilidade de contato físico regular com a congregação, a chama do altar da família reacende, os cultos domésticos são reavivados, a oração intercessora se intensifica, especialmente pelos enfermos. As visitas aos enfermos serão feitas pelos anjos do céu em resposta às orações de seus irmãos.

O novo cenário de caos e pânico pode tornar bastante promissora a aceitação do evangelho. Amedrontadas e desorientadas, as pessoas precisam mais do que nunca da esperança que só Jesus Cristo pode oferecer. Mas, como crerão, se não há quem pregue? Em sua providência misericordiosa, a poderosa mão de Deus refreou essa pandemia até um momento em que a tecnologia permitisse muitas oportunidades de comunicação rápida, fácil e barata. Pelos meios digitais, a mensagem de Jesus pode chegar a mais pessoas, que, na ausência de muitas de suas distrações mundanas, e carentes de consolo e orientação, poderão ser tocadas pelas boas-novas de salvação em Cristo. Além disso, muitos lares receberam livros e revistas cristãos que ainda não foram lidos, mas que agora poderão ser abertos e apresentarão o amor de Deus aos seus leitores. Finalmente, isolados em suas casas, é o momento de cada cristão intensificar seus esforços para alcançar para Cristo aqueles que estão perto de si, mas longes de Deus. Há um campo missionário imenso nos lares divididos, em que não é toda a família que serve a Deus.

Outro desafio da igreja de portas fechadas será a administração das ordenanças bíblicas. O batismo, a Santa Ceia, a unção dos enfermos, a dedicação de crianças ao Senhor e a celebração do matrimônio não poderão acontecer na mesma frequência de antes. Mesmo cultos fúnebres podem ser inviáveis em algumas circunstâncias. Algumas atividades, como o ensino, a pregação e a doação de dízimos e ofertas continuarão por meio da moderna tecnologia. Mas os ritos da igreja só serão possíveis em situações muito restritas. Mesmo assim, cada cristão deve se alimentar todos os dias da Palavra de Deus e ser batizado diariamente com o Espírito Santo. Deve-se interceder para que os enfermos sejam ungidos pelo Espírito que opera cura e milagres. As cerimônias da igreja são uma demonstração pública da fé particular. O ritual não é a fé, apenas a demonstra. Sendo raras, as ordenanças do evangelho tornam-se ainda mais preciosas e significativas.

A igreja é mais do que os templos. Cada fiel pode conectar-se diretamente com Deus sem a intermediação de pessoas ou a visita a locais sagrados. Pela graça de Deus, os cristãos poderão aproveitar as restrições para reunir-se, devido à pandemia, como uma oportunidade para se fortalecer pelo culto doméstico, aumentar a intercessão pelos perdidos, evangelizar seus familiares ainda não convertidos e preparar-se espiritualmente para outras provas que virão no futuro. Esse é o momento de fazer de cada lar uma igreja. É a ocasião para cada um buscar o fortalecimento espiritual individual e familiar. É a hora de ver o milagre de as dificuldades se transformarem em bênçãos. Após a crise, passada a pandemia, quando os cultos públicos forem retomados sem representar perigo para os adoradores, cada cristão poderá reconhecer mais do que nunca o privilégio que é se reunir com irmãos de fé na casa de Deus. Mais importante ainda se tornará o apelo do autor de Hebreus: “Não deixemos de congregar, como é costume de alguns. Pelo contrário, façamos admoestações, ainda mais agora que vocês veem que o Dia se aproxima” (Hebreus 10:25).

A crise causada pela epidemia é um sinal e um tempo oportuno para, mais do que antes, a igreja se preparar para o breve dia do regresso de Jesus Cristo, quando todos os crentes de todo o mundo e de todas as épocas poderão congregar em uma só multidão para adorar o Rei em sua majestade, livres de quaisquer males e enfermidades que assolam este mundo de pecado.

FERNANDO DIAS, pastor e mestrando em Teologia, é editor associado de livros na Casa Publicadora Brasileira

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