No capítulo treze do Apocalipse, o profeta João fala do surgimento de dois poderes. O primeiro poder foi identificado desta forma: “Vi emergir do mar uma besta que tinha dez chifres e sete cabeças e, sobre os chifres, dez diademas e, sobre as cabeças, nomes de blasfêmia. Então vi uma de suas cabeças como golpeada de morte, mas essa ferida mortal foi curada; e toda a terra se maravilhou, seguindo a besta” (Apocalipse 13:1,3).
Em linguagem figurada o profeta mostra o que viu surgindo do mar. O fato de descrever que esse poder surgia do mar quer dizer que surgiria de dentro do povo. O povo permitiria e apoiaria o surgimento desse poder. A expressão “mar” significa nações, povos, reinos (Apocalipse 17:15). O profeta João não encontrou na zoologia um animal que pudesse descrever o que ele estava vendo, mas tentou mostrar como era esse poder que surgiria do meio do povo e apoiado pelo povo.
O mesmo animal mencionado em Apocalipse 12 é a besta vestida de escarlate descrita no capítulo 17. Todos esses símbolos representam um mesmo poder, que é identificado pelo Império Romano em suas duas fases, imperial e papal.
Esse poder tinha dez chifres, sete cabeças, dez diademas, e sobre uma das cabeças nomes de blasfêmia. “Os dez chifres representam as divisões do Império Romano a partir de 476 da era cristã” (Vilmar E. González, Daniel e Apocalipse. 2ª ed. 1988, p. 223).
A história registra que após 476 d.C. o grande Império Romano se esfacelou. Rômulo Augusto foi o último imperador. Após sua queda o império foi dividido entre as tribos bárbaras. “As sete cabeças representam as sete formas de governo que Roma passou desde a sua fundação em 753 a.C. que são: reis, cônsules, ditadores, decênviros, tribunos, imperadores e papas” (idem). Os dez diademas sobre as cabeças representam o poder que seria dado para cada chifre, ou forma de poder para reinar e governar. A coroa é o símbolo máximo de poder. Esses poderes governariam ou reinariam de fato e de verdade.
A profecia diz que nas cabeças estava escrito um nome de blasfêmia. Tanto os imperadores como os papas se colocavam como deuses. Eles requeriam adoração de seus súditos, uma afronta ao Deus Criador (Deuteronômio 17:36). Uma outra blasfêmia era a pretensão de ser igual a Deus. O poder romano, tanto imperial quanto papal, esqueceu o princípio básico que diz que a criatura nunca será igual o Criador (Mateus 26:64,65).
O profeta menciona ainda que uma das cabeças seria ferida de morte. A história conta que a França entrou em revolução de 1789 a 1793. O desejo dos franceses era banir por completo a religião na França e nos países vizinhos. Napoleão Bonaparte ampliou as fronteiras da França, invadindo outros países, inclusive a Itália, onde algo extraordinário aconteceu. “Durante a Revolução Francesa, e sob as ordens do revolucionário governo francês, o general Alexander Berthier proclamou em Roma, aos 15 dias de fevereiro de 1798, que o Papa Pio VI não deveria mais exercer qualquer função a partir desta data.
Richard Duppa, um escritor britânico que se encontrava em Roma naquela ocasião, diz que o papa foi aprisionado na capela Sistina, enquanto celebrava o vigésimo terceiro aniversário de sua coroação. … O papa, com mais ou menos 80 anos de idade, morreu em uma prisão, na cidade-fortaleza de Valença, em 29 de agosto de 1799. (C. Mervyn Maxwell, Uma Nova Era Segundo as Profecias do Apocalipse. 3.ª ed. 2002, p. 337).
Essa profecia se cumpriu ao pé da letra no dia 15 de fevereiro de 1798. Mas está escrito que essa cabeça ou esse poder, que tinha recebido uma ferida de morte, foi curada. O profeta está dizendo que esse poder voltaria ao cenário mundial com toda a pompa e poder que tinha antes de receber o mais duro golpe.
Como começou a cura? “Passados dois anos, em 1800, um outro papa foi eleito; Pio VII foi colocado no trono de São Pedro. No entanto ele não possuía autoridade temporal como outrora e suas atividades religiosas eram bem restritas. Aos poucos, porém, começou a ganhar terreno, e a concordata assinada com o papa Pio VII em julho de 1801, estabelecia o culto católico na França” (Vilmar E. González, Daniel e Apocalipse. 2ª ed. 1988, p. 230).
De forma lenta, mas segura, os passos foram dados no sentido de restabelecer os direitos à igreja. “No ano de 1929, foi assinado o tratado de Latrão, onde o poder temporal do papado foi restaurado. Foi separado da cidade de Roma, a cidade do Vaticano, com uma extensão de 44 hectares e devolvido à Igreja de Roma” (C.B.A.S.D. Vol 7, p. 832).