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Só uma versão da Bíblia é inspirada?

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Entenda por que não devemos rejeitar aquelas traduções que foram revisadas.

De tempos em tempos, ressurge nos meios adventistas a discussão quanto à confiabilidade das versões bíblicas, a mesma que existe nos círculos mais radicais do fundamentalismo evangélico desde a segunda metade do século 19. O problema, que afeta mais o NT que o AT, tem que ver com o chamado Textus Receptus, que é como ficou popularmente conhecido o NT grego editado por Erasmo de Roterdam em 1516.[1] Por haver servido de base para as primeiras traduções protestantes, inclusive a de João Ferreira de Almeida, e por causa da crença (explícita ou implícita) na inspiração verbal e inerrância absoluta das Escrituras, o Textus Receptus é visto por alguns como sagrado e, portanto, intocável. Sendo assim, as versões revisadas, cujo texto se baseia em manuscritos diferentes daqueles utilizados por Erasmo, são ilegítimas e, por isso, deveriam ser rejeitadas.[2]

A reivindicação, porém, é infundada e reflete o elevado grau de despreparo e obscurantismo dos que a mantêm. Ignorando a história da transmissão do texto bíblico, as práticas escribais e o grande acervo de manuscritos gregos disponíveis (cerca de 5.700), os defensores do texto de Erasmo se deixam levar por teorias conspiratórias e embarcam na defesa inútil de um texto medieval, inferior e que não é testemunhado na íntegra por um único manuscrito grego sequer. A seguir, estão algumas considerações a respeito.

O texto de Erasmo

Convidado às pressas para que preparasse uma edição do NT grego, Erasmo se valeu de apenas meia dúzia de manuscritos que encontrou nos mosteiros próximos a Basileia, na Suíça, onde seu texto seria publicado. Os manuscritos eram todos tardios (posteriores ao século 11), de pouca qualidade (já bastante viciados por copistas) e nenhum que contivesse o NT em sua totalidade. Para o Apocalipse, por exemplo, Erasmo dispunha de um único manuscrito (do século 12), ao qual faltava a última folha com os versículos finais do livro (Ap 22:16-21). Para suprir a falta, bem como de outros versículos ilegíveis do manuscrito, Erasmo retraduziu-os da Vulgata Latina, de Jerônimo. Isso gerou um texto imperfeito, repleto de anomalias. É o caso do versículo 19, entre outros, onde Erasmo omite o artigo seis vezes, todas indevidamente, e usa uma palavra grega inexistente. No mesmo versículo, o texto de Erasmo diz: “Deus tirará sua parte do livro da vida.” Ocorre que não existe um único manuscrito grego que traga essa expressão. Todos os manuscritos que contêm o versículo trazem “árvore da vida” em vez de “livro da vida.”[3] A alteração foi embasada num texto igualmente tardio da Vulgata. O próprio Erasmo reconheceu mais tarde em carta enviada ao Papa, a quem dedicara sua obra, que ela fora “mais ´precipitada que editada”.[4]

As muitas revisões do texto de Erasmo tornam inaceitável a reivindicação de que ele seja verbalmente inspirado ou uma reprodução perfeita e autorizada do texto original

Ainda que do ponto de vista doutrinário o Textus Receptus seja virtualmente idêntico ao texto dos melhores e mais antigos manuscritos, adotá-lo como aquele que supostamente melhor representa o texto original do NT é uma atitude injustificada que só serve para confundir e desorientar os mais simples.[5] Quem quer que repute o Textus Receptus como uma espécie de texto revelado deve acreditar que Erasmo, um sacerdote católico humanista que jamais se uniu à Reforma Protestante, foi inspirado por Deus ao editá-lo. Além disso, deve explicar como esse texto permaneceu desconhecido até o século 16, visto que, como já foi dito, ele não é testemunhado por nenhum dentre os milhares de manuscritos gregos conhecidos.[6] Por fim, deve saber que o texto de Erasmo de 1516 sofreu sucessivas alterações em diferentes lugares da Europa, primeiro pelo próprio Erasmo (nas quatro edições seguintes, de 1519 a 1535) e depois por editores tais como Roberto Estéfano, Teodoro Beza e Abraão e Boaventura Elzevir. As muitas revisões – algumas para pior – do texto de Erasmo pelo período de mais de cem anos, até o tempo dos Elzevir, tornam inaceitável a reivindicação de que ele seja verbalmente inspirado ou uma reprodução perfeita e autorizada do texto original. Um mínimo de conhecimento da história do texto neotestamentário seria suficiente para se evitar alegações tão constrangedoras como essas.[7] A propósito, o próprio Erasmo estava convencido de que várias das passagens que mantivera ou incluíra no texto não eram originais, mas as publicou mesmo assim porque acreditava que elas estavam em harmonia com o evangelho.[8]

O papel de Westcott e Hort

Os ataques à integridade e ortodoxia de B. F. Westcott e F. J. A. Hort revelam o desespero, senão a má fé, dos defensores do Textus Receptus. Professores de teologia na Universidade de Cambridge, Inglaterra, Westcott e Hort publicaram em 1881 uma edição do NT grego que muito contribuiu para pôr fim ao reinado do já moribundo Textus Receptus.[9] No mesmo ano, também foi publicado o NT da English Revised Version (ERV), que teve como base o texto grego por eles preparado e de cuja tradução ambos participaram. A ERV, é claro, diferia da chamada Versão Autorizada, que era como a tradicional KJV era conhecida, e não demorou para que Westcott e Hort fossem acusados de haver adulterado as Escrituras. As críticas, portanto, não são recentes e com frequência chegam a incluir, entre outras coisas, alegações de que eles estavam envolvidos com ocultismo e sociedades secretas e de não crerem nem na criação nem na divindade de Cristo.[10]

Antes de Westcott e Hort, por mais de dois séculos os estudiosos já vinham estudando manuscritos antigos e colecionando evidências que demonstravam a inferioridade do Textus Receptus e a necessidade de corrigi-lo

Por mais, porém, que as contribuições de Westcott e Hort quanto ao texto grego do NT tenham sido significativas, tanto do ponto de vista editorial quanto metodológico, as acusações de que são alvo dão a impressão de que antes e depois deles ninguém fez absolutamente nada. Isso é pura desinformação. Antes de Westcott e Hort, por mais de dois séculos os estudiosos já vinham estudando manuscritos antigos e colecionando evidências que demonstravam a inferioridade do Textus Receptus e a necessidade de corrigi-lo. Foi um processo gradual, cumulativo.[11] Da mesma forma, depois de Westcott e Hort, vários outros continuaram a desenvolver o texto grego do NT até seu estágio atual. A evidência documental em favor do texto neotestamentário é impressionante: 5.700 manuscritos gregos, sendo que alguns remontam ao segundo século; 20 mil manuscritos das antigas versões; e mais de um milhão de citações dos antigos escritores cristãos. É uma espécie de “constrangimento da fartura”, como declara Daniel B. Wallace.[12] Tal evidência não pode simplesmente ser ignorada.

Além disso, mesmo que discordemos de algumas das crenças de Westcott e Hort, que eram anglicanos, dizer que eles – especialmente Westcott – não estavam alinhados com a fé protestante beira à leviandade. De profunda consciência religiosa e piedade cristã, Westcott cria na inspiração e autoridade das Escrituras. Ele acreditava em milagres, na encarnação e na ressurreição de Cristo, que para ele era o fundamento da fé cristã. Numa época em que a crítica liberal dominava a cena na Europa continental e atacava duramente a credibilidade histórica dos evangelhos, Westcott produziu um dos melhores comentários do evangelho de João já produzidos nos meios conservadores. Sua defesa, por exemplo, da autoria apostólica do evangelho é um marco da pesquisa joanina e até hoje usada como referência.[13] Ao contrário do que se ouve nos porões da boataria e difamação, Westcott cria, sim, na plena divindade de Jesus, não era panteísta e defendia a criação como um ato direto de Deus por meio de Cristo.[14]

Citações de Ellen G. White

Sobre Erasmo, Ellen White escreveu: “A Bíblia de Wycliffe [concluída em 1382] fora traduzida [para o inglês a partir] do texto latino, que continha muitos erros. Nunca havia sido impressa, e tão elevado era o custo dos exemplares manuscritos que, a não ser homens abastados ou nobres, poucos poderiam adquiri-los; ademais, sendo estritamente proscrita pela igreja, tivera divulgação relativamente acanhada. Em 1516, um ano antes do aparecimento das teses de Lutero, Erasmo publicara sua versão grega e latina do Novo Testamento. Agora, pela primeira vez, a Palavra de Deus era impressa na língua original. Nesta obra muitos erros das versões anteriores foram corrigidos, dando-se mais clareza ao sentido.”[15]

Não está claro se na última frase da citação acima Ellen White se refere ao texto grego ou ao texto latino de Erasmo. Não obstante a referência ao texto grego na frase imediatamente anterior, a alusão às “versões anteriores” parece indicar que Ellen White tivesse em mente as versões latinas, pois se tratava da primeira vez que o texto grego era impresso e disponibilizado ao público em geral. Sendo assim, os “muitos erros” eliminados por Erasmo só poderiam se referir ao texto latino, que era praticamente o único que circulava na Europa ocidental desde o início da Idade Média e o único que estava sendo impresso desde que Gutenberg publicara o primeiro exemplar, em 1456. De fato, o foco de Erasmo não era o texto grego, mas o texto latino da Vulgata, que estava demasiadamente corrompido pelos copistas e que ele pretendia corrigir a partir do que supunha ser o original grego.[16] E ele fez um excelente trabalho. Embora os poucos manuscritos gregos que encontrara fossem tardios e também houvessem sofrido muitas alterações escribais, eles traziam um texto superior ao texto latino da época, o que permitiu que Erasmo revisasse extensamente esse texto com base no texto grego. Em realidade, a tradução latina de Erasmo, a primeira desde o tempo de Jerônimo, era moderna e bem feita, muito superior ao consagrado texto da Vulgata.

Ellen White jamais pretendeu que a versão bíblica por ela utilizada na primeira metade de seu ministério fosse considerada como inerrante só porque ela a utilizou

A utilização da citação acima para se defender o Textus Receptus, portanto,não parece correta. Além do mais, Ellen White reconhecia que erros haviam sido introduzidos no processo de cópia e recópia dos manuscritos bíblicos, em que pese a divina Providência em preservá-los através dos séculos. “Vi que Deus havia de maneira especial guardado a Bíblia, ainda quando dela existiam poucos exemplares; e homens doutos nalguns casos mudaram as palavras, achando que a estavam tornando mais compreensível quando, na verdade, estavam mistificando aquilo que era claro, fazendo-a apoiar suas estabelecidas opiniões, que eram determinadas pela tradição.”[17]

Com relação às versões em inglês, além da KJV, Ellen White também fez uso da ERV, a mesma que Westcott e Hort ajudaram a produzir, tão logo ela foi publicada, em 1881. Mais tarde, Ellen White também faria uso da ARV, American Revised Version, também conhecida como American Standard Version (ASV), publicada em 1901. O NT de ambas as versões era embasado no texto grego de Westcott e Hort. Segundo William C. White, filho de Ellen White, sua mãe dera orientações específicas às suas assistentes para que usassem a versão que melhor refletisse suas ideias. Em A Ciência do Bom Viver, por exemplo, há dez citações da ERV e mais de cinquenta da ARV, além de umas poucas de outras versões e notas marginais.[18] Ou seja, Ellen White não se limitou à KJV ou fez qualquer advertência quanto ao uso de novas versões, o que demonstra que ela não via qualquer razão para isso.

A posição da IASD

A Igreja Adventista jamais tomou uma posição oficial a favor de uma versão em detrimento de outras. Quando da publicação da ERV, a Review and Herald publicou diversos artigos com comentários favoráveis a essa nova tradução, embora ela divergisse do Textus Receptus ou da KJV.[19] Em 1919, quando perguntado se não devemos recorrer aos escritos de Ellen White para resolver tensões entre a KJV e as versões revisadas, Arthur G. Daniels, então presidente da Associação Geral, respondeu: “Não creio de jeito nenhum que a irmã White quisesse estabelecer a certeza de uma tradução. Não creio que ela tivesse isso em mente, ou desejasse pôr seu selo de aprovação sobre a KJV ou sobre qualquer versão revisada quando as citou. Ela usa a versão que melhor expressa o pensamento que ela deseja comunicar”.[20] No início da década de 1930, no contexto de uma discussão em torno da suposta superioridade da KJV,[21] a Associação Geral emitiu declarações oficiais afirmando que tanto a KJV quanto a ARV podiam ser usadas pelos adventistas apesar de suas diferenças. Ninguém que estivesse a serviço da igreja deveria agravar as discussões e os membros deveriam se sentir livres para escolher qual tradução utilizar.

A Igreja Adventista jamais tomou uma posição oficial a favor de uma versão em detrimento de outras

Em meio a outro debate que se seguiu à publicação da Revised Standard Version (RSV), entre 1946 e 1952, uma comissão foi nomeada pela Associação Geral para tratar do assunto, e mais uma vez a igreja reconheceu a utilidade de novas versões. A comissão justificou sua posição mediante três argumentos: (1) as muitas descobertas de textos seculares antigos, especialmente a partir de 1900, que têm enriquecido nossa compreensão das línguas bíblicas; (2) os muitos manuscritos bíblicos, descobertos sobretudo a partir de meados do século 19, que têm permitido a progressiva correção do Textus Receptus; e (3) o caráter dinâmico das línguas modernas, que estão em constante mudança.[22] Em anos recentes, diante de mais um esforço de ressuscitar, por meio de vídeos e palestras populistas na internet, as mesmas alegações de sempre em favor do Textus Receptus e contra as versões revisadas, inclusive chamando-as de “demoníacas”, a Associação Geral publicou dois artigos com a intenção de ajudar e orientar a igreja. O primeiro foi escrito por Johannes Kovar, professor de NT em Bogenhofen, na Áustria, e o outro por Ekkehardt Mueller, ex-diretor associado do Instituto de Pesquisa Bíblica (BRI, em inglês).[23] Tanto Kovar quanto Mueller destacam o contrassenso de se pensar no Textus Receptus como sagrado e, portanto, superior ao texto dos manuscritos mais antigos. Quanto às versões, para estudos mais técnicos, Mueller recomenda aquelas que têm como base o texto grego revisado e que adotam uma tradução mais literal. Versões um pouco mais dinâmicas podem ser úteis para a leitura devocional.[24]

Respeito aos fatos e à doutrina

A Bíblia é a inspirada Palavra de Deus, mas chegou até nós em roupagem humana (e por mãos humanas), do contrário seres caídos e limitados não a poderiam compreender.[25] E conquanto tudo o que é humano contenha imperfeições, nada disso compromete o poder ou a veracidade do texto sagrado. Focar nos problemas, sejam eles internos ou de transcrição, em detrimento da unidade e harmonia geral do texto, é dar espaço à dúvida e ao ceticismo. Os mesmos manuscritos que apresentam divergências textuais demonstram que a mensagem bíblica foi preservada de forma inalterada através dos séculos. Não é de todo errado, portanto, preferir uma versão à outra,mas alegar que um texto grego editado no início do século 16 e alterado inúmeras vezes até meados do século 17 é o único que contém o texto original do NT beira ao ridículo. O mesmo acontece com a defesa quase idólatra da KJV que existe em círculos fundamentalistas, incluindo-se pentecostais,[26] e que de tempos em tempos alguém insiste em trazer para dentro do adventismo. Nos anos que se seguiram à sua publicação, em 1611, a KJV foi submetida a várias revisões, de modo que seu texto atual não é em absoluto idêntico ao da primeira edição.[27] Como, então, justificar a reivindicação de que tanto o Textus Receptus quanto a KJV contêm uma espécie de texto verbalmente inspirado? O mesmo se aplica à ARC.[28] Se o texto foi alterado, pergunta W. Edward Glenny, “qual edição é a edição inspirada?”[29]

A Bíblia é a inspirada Palavra de Deus, mas chegou até nós em roupagem humana (e por mãos humanas), do contrário seres caídos e limitados não a poderiam compreender

As coisas, porém, ficam ainda mais difíceis quando se observa o grau de crueldade e malícia por detrás das acusações para com aqueles cuja principal preocupação era restaurar o texto à sua forma original. O pinçamento de detalhes isolados por si só já é suficiente para criar um enredo falso, mas ainda mais grave é quando evidência falsa é confeccionada com a única intenção de difamar. Isso, com efeito, revela muito mais acerca daqueles que assim o fazem que daqueles que são o objeto da difamação. A prática joga na lama o suposto interesse deles em defender a verdade, além de torná-los responsáveis por confundir aqueles que pouco ou nada entendem do assunto.

Por fim, Ellen White jamais pretendeu que a versão bíblica por ela utilizada na primeira metade de seu ministério – a KJV era praticamente a única disponível – fosse considerada como inerrante só porque ela a utilizou. Não é, por conseguinte, legítimo usar seus escritos para justificar tal conceito. Ela sempre rejeitou a noção de inspiração verbal e, como já salientado, tão logo novas versões embasadas no texto grego revisado começaram a ser publicadas, ela mesma passou a utilizá-las. Isso inclui a própria ERV, cujo projeto de tradução foi em parte liderado pelos próprios Westcott e Hort. Na verdade, visto que não partilhamos da crença na inspiração verbal e inerrância das Escrituras, esta discussão toda é absolutamente alheia ao pensamento adventista – pelo menos deveria ser. É por isso que a IASD sempre se opôs à defesa do Textus Receptus e à consequente rejeição das versões revisadas. Quem quer que tente fazê-lo, portanto, estará em desarmonia com o ensino e a prática da igreja.

WILSON PAROSCHI é professor de Novo Testamento na Southern Adventist University, nos Estados Unidos


NOTAS

[1] A edição de Erasmo, a princípio por ele denominada de Novum Instrumentum (depois, Novum Testamentum), era na verdade bilíngue (em grego e latim em colunas paralelas).O nome Textus Receptus, que significa “texto recebido”, refere-se apenas ao texto grego e não seria utilizado senão a partir de 1633. Para a origem do nome, veja: Wilson Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento (Barueri: Sociedade Bíblica do Brasil, 2012), p. 122-129.

[2] Em inglês, o Textus Receptus é representado principalmente pela tradicional King James Version (KJV) e sua sucessora, a New King James Version (NKJV). Em português, pela Almeida Revista e Corrigida (ARC), assim chamada desde 1898 e a remanescente mais direta da obra de João Ferreira de Almeida. Outras versões em língua portuguesa embasadas nesse texto incluem a Edição Contemporânea de Almeida (1990) e a Almeida Corrigida Fiel (1994).

[3] Diferentemente da KJV, a ARC, que também é baseada no Textus Receptus, traz “árvore da vida.”

[4] Werner G. Kümmel, Introduction to the New Testament, transl. Howard C. Kee (Nashville: Abingdon, 1975), p. 541.

[5] D. A. Carson esclarece: “Nada do que acreditamos ser doutrinalmente verdadeiro, e nada do que nos é ordenado fazer, está, de algum modo, comprometido pelas variantes. […] A interpretação de passagens individuais pode muito bem ser questionada; mas nunca uma doutrina é prejudicada” (The King James Version Debate: A Plea for Realism [Grand Rapids: Baker, 1979], 56). Para mais informações, veja: Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento, p. 189-193, 266-279.

[6] Seu parente mais próximo, o chamado Texto Majoritário – ou o texto representado pela maioria dos manuscritos gregos, todos posteriores ao quinto século – difere dele nada menos que 1.838 vezes. Algumas vezes, o Textus Receptus “é melhor que o texto Majoritário, mas, quase sempre, é decididamente inferior, com leituras que apresentam pouco ou nenhum apoio documental” (ibid., 128). Ou seja, embora o Textus Receptus e o Texto Majoritário estejam relacionados, não é correto pensar que eles são idênticos.

[7] Além das cinco edições de Erasmo, foram quatro de Estéfano (entre 1546 e 1551), cinco de Beza (entre 1565 e 1604, além de uma edição póstuma, em 1611), e sete dos Elzevir (entre 1624 e 1678), para citar apenas os mais importantes. E convém salientar que, por haver sido feitas antes que o texto do Textus Receptus fosse padronizado, o que ocorreu somente a partir da segunda edição dos Elzevir (1633), as primeiras traduções protestantes não foram baseadas em textos gregos idênticos, embora todos representassem essencialmente o texto de Erasmo. A tradução de Lutero para o alemão, por exemplo, foi embasada na segunda edição de Erasmo, de 1519, ao passo que a King James o foi principalmente na edição de Beza de 1598. Não se sabe ao certo qual edição do Textus Receptus foi usada por João Ferreira de Almeida, mas há indícios de que possa ter sido alguma das edições de Beza.

[8] É o caso, por exemplo, da doxologia do Pai-Nosso (Mt 6:13), dos versículos finais de Marcos (Mc 16:9-20), do relato da mulher adúltera (Jo 7:53-8:11) e da chamada Comma Joanina (1Jo 5:7-8). Veja: Jerry H. Bentley, “Erasmus’ Annotationes in Novum Testamentum and the Textual Criticism of the Gospels”, ARG 67 (1976), p. 46-53.

[9] Ernest C. Colwell se referiu à edição de Westcott e Hort como o “golpe de misericórdia” para o Textus Receptus (What Is the Best New Testament? [Chicago: University of Chicago Press, 1952], p. 35).

[10] As acusações costumam aparecer em sites sensacionalistas de internet (veja, por exemplo: http://christianchat.com/bible-discussion-forum/33219-part-11-riders-occult-connections-westcott-hort.html) e, por vezes, em publicações destituídas de qualquer reconhecimento acadêmico, inclusive nos meios conservadores, como é o caso de Thomas Holland, Crowned with Glory: The Bible from Ancient Text to Authorized Version (San Jose: Writers Club, 2000), p. 36-39.

[11] Dentre os vários nomes dignos de nota, Constantin von Tischendorf (1815-1874), por exemplo, é lembrado como “o homem a quem mais deve a moderna crítica textual do NT” (Bruce M. Metzger e Bart D. Ehrman, The Text of the New Testament: Its Transmission, Corruption, and Restoration, 4ª. ed. [Nova York: Oxford, 2005], p. 172). Em suas viagens pelo Oriente Médio, Tischendorf descobriu 24 manuscritos, entre eles o Códice Sinaítico, preparou edições inéditas de 25, reedições de onze, transcrições de outros quatro e colações de treze manuscritos. Ele ainda preparou oito edições do NT grego, sendo que, até hoje, o aparato crítico da sua última edição continua sendo valioso para os trabalhos crítico-textuais do NT. Ao todo, Tischendorf escreveu mais de 150 livros e artigos, quase todos relacionados ao texto do NT.

[12] Daniel B. Wallace, “Laying a Foundation: New Testament Textual Criticism”, em Interpreting the New Testament Text: Introduction to the Art and Science of Exegesis, eds. Darrell L. Bock e Buist M. Fanning (Wheaton: Crossway, 2006), p. 43.

[13] Stanley E. Porter declara que Westcott “deveria ainda ser considerado um dos maiores intérpretes joaninos de sua ou de qualquer geração” (“Brooke Foss Westcott: Johannine Scholar Extraordinaire”, em The Gospel of John in Modern Interpretation, ed. Stanley E. Porter e Ron C. Fay [Grand Rapids: Kregel, 2018], p. 61).

[14] Algumas citações extraídas de seu comentário de João (The Gospel according to St. John [Londres: Murray, 1882; reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1978]): “Nenhuma ideia de inferioridade de natureza é sugerida pela forma de expressão [‘e a Palavra era Deus’, Jo 1:1c], a qual simplesmente afirma a verdadeira divindade da Palavra” (3); “O modo da existência do Senhor na terra era verdadeiramente humano [‘e a Palavra se fez carne’, v. 14] e sujeito a todas as condições da existência humana, mas Ele nunca cessou de ser Deus” (10); e sobre o v. 18, “O Filho é um em essência com o Pai” (14), e “Cristo, a Palavra Encarnada, é a perfeita revelação do Pai: como Deus, Ele revela Deus” (xliv). Veja também seu comentário de Hebreus (The Epistle to the Hebrews [Londres: Macmillan, 1889; reimpressão, Grand Rapids: Eerdmans, 1973): sobre Hb 1:2, Westcott afirma que “Ele [Cristo] é ao mesmo tempo o Criador e o Herdeiro de todas as coisas” (p. 7); “Toda a criação é um único ato instantâneo” e Cristo foi “o instrumento por meio do qual o mundo foi feito” (p. 9); e sobre 4:15, “Apeguemo-nos à nossa fé nEle [Cristo], a quem confessamos abertamente como verdadeiramente humano e verdadeiramente divino” (p. 106).Para mais informações, veja: http://westcotthort.com/jmay/deityofChrist.html.

[15] O Grande Conflito, p. 245.

[16] Paroschi, Origem e Transmissão do Texto do Novo Testamento, p. 122-126.

[17] Primeiros Escritos, p. 220-221.

[18] Arthur Ferch, “Which Version Can We Trust? (Part Four)”, Adventist Review, 27 de setembro de 1990, p. 13.

[19] Ibid.

[20] “Report of Bible Conference, Held in Takoma Park, D.C., July 1-19, 1919”, 1205.

[21] Benjamin G. Wilkinson, Our Authorized Bible Vindicated (Washington: College Press, 1930).

[22] The General Conference Committee, Problems in Bible Translation (Washington: Review and Herald, 1954), 76-77.

[23] Johannes Kovar, “The Textus Receptus and Modern Bible Translations”, Reflections: The BRI Newsletter, v. 21 (2008), p. 6-10; Ekkehardt Mueller, “Transmission and Preservation of the Biblical Text”, Reflections: the BRI Newsletter, v. 50 (2015), p. 1-7.

[24] Em inglês, as versões que Mueller recomenda para estudos exegéticos/teológicos são a NASB (New American Standard Bible) e a ESV (English Standard Version); a NIV (New International Version) seria para uma leitura mais devocional (Mueller, 6). Em português, o primeiro grupo (mais formal) inclui a NAA (Nova Almeida Atualizada) e a NBJ (Nova Bíblia de Jerusalém); o segundo (mais devocional), a NVI (Nova Versão Internacional), a A21 (Almeida Século 21) e a NVT (Nova Versão Transformadora).

[25] Mensagens Escolhidas, v. 1, p. 19-21.

[26] Para saber como os pentecostais respondem às dificuldades textuais de Mc 16:9-20 (particularmente os v. 17-18), veja: http://www.scielo.org.za/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S2074-77052020000100037.

[27] W. Edward Glenny, “The New Testament Text and the Version Debate”, em One Bible Only? Examining Claims for the King James Bible, eds. Roy E. Beacham e Kevin T. Bauder (Grand Rapids: Kregel, 2001), p. 86.

[28] A tradução original do NT de João Ferreira de Almeida passou por um longo processo de revisão até sua publicação, em 1681. O texto continuou a ser revisado até ser publicado, agora em conjunto com o AT (em dois volumes), entre 1748 e 1753. Outra grande revisão ocorreria cerca de cem anos mais tarde em Londres, entre 1869 e 1875, que é quando o AT e NT seriam pela primeira vez publicados num único volume. Vinte anos depois, em 1894, o antigo texto de Almeida sofreu nova revisão, na qual foram feitas várias correções ortográficas e diversos termos obsoletos foram substituídos. O próprio nome, Almeida Revista e Corrigida, reflete as várias alterações que lhe foram incorporadas ao longo de mais de duzentos anos. Ela é assim chamada desde a edição de 1898, feita em Lisboa. Veja: https://biblia.sbb.org.br/almeida-revista-e-corrigida.

[29] Glenny, “The New Testament Text and the Version Debate”, p. 86.


Última atualização em 9 de maio de 2022 por Márcio Tonetti.

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