Inicial JUÍZO INVESTIGATIVO “O juízo começa pela casa de Deus”

“O juízo começa pela casa de Deus”

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Dissertação faz análise exegética de passagem bíblica utilizada pelos adventistas para defender a crença no juízo investigativo

Apresentada no programa de mestrado em Teologia da Universidad Peruana Unión (UPeU), em Lima, a pesquisa foi realizada pelo pastor Eduardo Rueda Neto, responsável pela editoria dos livros de Ellen White na CPB. O estudo lança luz sobre a interpretação de 1 Pedro 4:17, onde aparece a expressão “o juízo começa pela casa de Israel”, e seu uso para apoiar a crença no juízo investigativo.

1. Resumo do trabalho

A pesquisa consiste em uma análise exegética dos textos de Ezequiel 9:6, Malaquias 2:17–3:5 e 1 Pedro 4:17 com base em seus respectivos contextos literário, histórico e teológico. A partir do cruzamento de informações, busca identificar paralelos linguísticos, temáticos e estruturais, bem como as influências intertextuais que as duas passagens do Antigo Testamento exerceram na elaboração da declaração de 1 Pedro 4:17. Como resultado, a pesquisa lança luz sobre a interpretação desse texto do apóstolo Pedro e seu uso para apoiar a crença no juízo investigativo.

 

2. Pergunta respondida

Desde os primórdios do adventismo, o texto de 1 Pedro 4:17 tem sido utilizado para apoiar a crença no juízo investigativo, segundo a qual o julgamento divino que antecede a segunda vinda de Cristo deve começar – ou melhor, já começou – pelo povo de Deus. No entanto, essa afirmação muitas vezes é feita sem levar em conta o contexto da passagem de 1 Pedro 4:17 e sem considerar também as influências que textos do Antigo Testamento exerceram na composição desse verso. Estudiosos da primeira epístola de Pedro sugerem que o autor se embasou principalmente na linguagem e nos conceitos expressos em Ezequiel 9:6 e Malaquias 2:17–3:5 para elaborar sua declaração. Dessa forma, para se obter um entendimento mais completo da passagem de 1 Pedro 4:17, bem como para averiguar se ela realmente é adequada para apoiar o ensino do juízo pré-advento, é necessário entender tanto o contexto da passagem quanto suas relações intertextuais com o Antigo Testamento. Tendo isso em vista, a pesquisa procura responder à seguinte pergunta: Qual é o significado da afirmação de que o juízo começa pela casa de Deus (1Pe 4:17), considerando seu contexto e suas conexões intra-bíblicas com as passagens de Ezequiel 9:6 e Malaquias 2:17–3:5?

3. Conclusão do autor

Após a análise exegética dessas três passagens bíblicas, o cruzamento das informações e a identificação de paralelos, concluiu-se que:

  1. a) Nos três trechos bíblicos examinados, o tema/motivo do santuário/templo ocupa uma posição central, funcionando não apenas como pano de fundo para o desenvolvimento da narrativa, dos oráculos proféticos e do discurso apostólico, mas também como eixo temático organizador, ao redor do qual são construídos e entrelaçados os conceitos teológicos e as metáforas utilizadas em cada passagem.
  2. b) Todas as passagens têm um forte e perceptível teor escatológico. Embora as profecias de Ezequiel e Malaquias sejam aplicadas primeiramente a um contexto específico da história de Israel, seus contornos e linguagem evidenciam características apocalípticas que representam em caráter microcósmico realidades mais amplas e complexas que deveriam se cumprir no tempo do fim. Essa ideia é corroborada pelo uso que o livro do Apocalipse faz das imagens e da linguagem que estão presentes nessas passagens. No que se refere ao texto de 1 Pedro, o tom escatológico se verifica pela evidente expectativa do autor em relação à iminência da volta de Cristo e pelo uso que ele faz das outras duas passagens do Antigo Testamento analisadas na pesquisa.
  3. c) Os textos bíblicos analisados trazem à luz uma lógica que se repete ao longo das Escrituras e que revela o modus operandi pelo qual Deus desenvolve Seu processo judicial que envolve os seres humanos, sintetizado na essência da afirmação de Pedro: “O juízo começa pela casa de Deus”. Na economia do plano da redenção, Yahweh outorga ao Seu povo altos privilégios e bênçãos especiais a fim de que seja Seu representante na Terra e estenda aos demais pecadores a oportunidade de se transformarem em súditos do reino celestial. Além das bênçãos, Deus faz chegar primeiramente a esse povo escolhido a mensagem da salvação. De maneira correspondente, ao aplicar Seu juízo, Ele Se reporta primeiro ao Seu povo, na expectativa de encontrar frutos equivalentes aos privilégios. Terminada essa fase, dirige Sua atenção aos que não aceitaram participar das bênçãos de Sua aliança e que, portanto, não formam parte do povo escolhido. Esse procedimento revela justiça e imparcialidade por parte do Juiz universal.
  4. d) Ao declarar que “a ocasião de começar o juízo pela casa de Deus é chegada”, Pedro se apropria da linguagem e dos temas presentes em Ezequiel 9 e em Malaquias 3 para construir e fundamentar sua argumentação dentro da perícope em que busca consolar os cristãos perseguidos. Na visão do apóstolo, o sofrimento forma parte de um processo de refinamento e, ao mesmo tempo, aponta para a esperança de um juízo iminente que redundará no castigo dos opressores.
  5. e) Considerando que Pedro provavelmente não tinha em vista o juízo pré-advento (embora suas palavras tenham um forte teor escatológico e suas fontes do Antigo Testamento apresentem juízos de caráter investigativo), parece impróprio utilizar 1 Pedro 4:17 como único texto-prova para fundamentar um aspecto da crença no juízo investigativo. Por outro lado, o texto serve muito bem ao propósito de indicar o modus operandi de Deus em Sua atividade judicial (ou seja, que Deus sempre começa Seus juízos pelo povo escolhido), o que pode, sem problema algum, ser aplicado ao juízo pré-advento. Em função disso, é desejável que os pregadores e expositores adventistas em geral deixem claro o fato de que o apóstolo estava refletindo uma tradição bíblica bem estabelecida e, ao mesmo tempo, enunciando uma espécie de princípio teológico e hermenêutico, e não interpretando esta ou aquela profecia.

4. Contribuição da pesquisa

A crença de que o julgamento divino do povo de Deus ocorre antes da segunda vinda de Cristo é fundamental para a teologia adventista. O conceito de juízo pré-advento está estreitamente relacionado com a doutrina bíblica do santuário – outra crença fundamental dos adventistas do sétimo dia –, pois ocorre no contexto do santuário celestial, e molda em grande medida nossa escatologia. É na compreensão de um juízo investigativo que o adventismo encontra o cumprimento último da maior profecia de tempo da Bíblia, as “duas mil e trezentas tardes e manhãs” (Dn 8:14) – que, segundo os cálculos proféticos, terminaram no ano de 1844, data de início do julgamento do povo de Deus. E foi nessa mesma ideia que nossos pioneiros encontraram uma explicação plausível para o fato de Jesus não ter voltado ao fim daquele período.

Sendo assim, é de suma importância que conheçamos os fundamentos bíblicos dessa crença. Considerando que 1 Pedro 4:17 é um dos textos mais citados em apoio a ela, não há como diminuir a necessidade de um acurado estudo dessa passagem. Todo estudante da Bíblia, especialmente quem ministra estudos bíblicos, deveria conhecer o contexto de 1 Pedro 4:17, bem como suas relações intertextuais com o Antigo Testamento, principalmente para não distorcer a passagem, aproveitando-se da linguagem do texto para sustentar uma crença, mas ignorando seu sentido e a intenção original do autor. Além disso, conhecer esses detalhes ajudará o estudante a ter uma visão mais ampla da dinâmica da salvação e do processo pelo qual Deus lida com o pecado e com o pecador.

FICHA TÉCNICA

Título: “El Juicio comienza por la casa de Dios”: Un estudio de 1 Pedro 4:17 y sus conexiones Intra-Bíblicas con Ezequiel 9:6 y Malaquías 2:17-3:5 

N° de páginas: 157

Orientador: Dr. Gluder Quispe Huanca

Ano: 2017

Universidade: UPeU

Linha de pesquisa: Teologia Bíblica

Link para a dissertação: https://repositorio.upeu.edu.pe/handle/UPEU/1112

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