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O Calendário no Céu

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Por Emilson dos Reis (RA, nov. de 1992)

Alguma vez, Deus enviou a Seu povo uma mensagem que envolvia um tempo específico, uma data marcada? Deus usa esse método hoje, ou irá usá-lo no futuro? É possível, de acordo com a Bíblia ou com os escritos de Ellen White, descobrir quando ocorrerão os últimos eventos, tais como o derramamento da chuva serôdia, o fechamento da porta da graça, as sete pragas e a própria segunda vinda de Cristo? Quando surge uma pessoa dizendo ter uma mensagem de Deus para Seu povo, é possível saber se Deus a enviou mesmo ou não? Essas perguntas merecem respostas.

Atualmente, em alguns lugares, têm surgido pessoas dizendo haver recebido revelações de Deus com relação à marcação de datas, através de visões, sonhos, orientação do Espírito Santo, estudo das Escrituras e dos escritos de Ellen White. Vamos, pois, começar por este ponto — verificando como se reconhece um profeta.

Os falsos profetas

De um modo especial, os mensageiros de Deus no Antigo Testamento eram os profetas. “Profeta” é freqüentemente a tradução da palavra hebraica nabhi, que significa “o que fala por outro”, “porta-voz”. Portanto, um profeta é um mensageiro de Deus, um porta-voz de Deus, alguém que recebe uma mensagem de Deus e a comunica a Seu povo. A principal tarefa dos profetas não é realizar milagres, nem mesmo predizer o futuro, embora eles freqüentemente o façam, mas transmitir a revelação que Deus lhes deu. Há, no Antigo e no Novo Testamento, dezenas de profetas, maiores, menores e anônimos, que foram enviados por Deus. É através deles que Deus tem revelado os Seus segredos e aquilo que pretende realizar no futuro.

Visto o ministério dos profetas ter sido um método tão amplamente utilizado por Deus para informar, consolar e transformar Seu povo, Satanás bem cedo começou a usá-lo também, enviando os seus mensageiros, os falsos profetas, como uma contrafação. Os profetas verdadeiros são instrumentos de bênção, enquanto que os falsos são agentes do mal. Os primeiros são de fato profetas; os segundos, apenas verossimilhantes: parecem, mas não são. Parecem, sim, porque freqüentemente usam a verdade de mistura com o erro, já que, nesse caso, seu poder de persuasão é maior. Quem está sendo iludido olha para as coisas boas que dizem ou fazem e imagina que vêm de Deus, não percebendo que sua porção de verdade visa apenas encobrir o engano que está por detrás.

No tempo do Antigo Testamento, em todo o período da era cristã e mesmo nos dias de Ellen White, houve falsos profetas; ainda hoje, eles estão em atividade, e existirão até o final de todas as coisas. Observemos algo que a Bíblia declara a respeito deles:

  • Eles surgem dentro do próprio povo de Deus (Atos 20:29-31; II Pedro 2:1).
  • Eles parecem ovelhas (Mateus 7:25).
  • Eles vêm em nome de Jesus (Mateus 24:5).
  • Eles são em grande número (Mateus 24:11).
  • Eles conseguirão enganar a muitos (Mateus 24:11).

Felizmente, Deus não nos deixou sem a luz necessária para detectar os falsos profetas. Existem alguns testes que devemos aplicar aos pretensos profetas para saber se são verdadeiros ou não (I João 4:1). Todos os profetas, verdadeiros ou falsos, devem ser submetidos a eles. Os verdadeiros sempre passaram nessas provas, inclusive Ellen White.

Devemos observar, contudo, que não é suficiente passar em um teste; o profeta deve passar em todos. Se não for aprovado em qualquer um deles, não precisamos perder tempo aplicando outros.

Não vamos analisar todas as provas, porque isso não é necessário. Com relação à “marcação de datas”, apenas uma prova é suficiente (Jeremias 28:1-9, 15-17). Para mim, essa é a mais importante de todas as provas apresentadas nas Escrituras. Aproveito para sugerir ao leitor que, sempre que aparecer alguém alegando ter uma revelação de Deus, use primeiro essa prova; somente depois, se ainda for necessário, aplique as outras.

Jeremias diz que a mensagem do verdadeiro profeta se harmoniza com todas as mensagens que Deus enviou anteriormente através dos outros profetas. Um novo profeta pode trazer informação nova, algum detalhe a mais, porém nunca entrará em contradição com a mensagem dos que vieram antes dele.

Segundo Jeremias, a mensagem de Hananias (versos 1 a 4) não se harmonizava com as mensagens dos verdadeiros profetas que haviam profetizado anteriormente (verso 8); esse fato era evidência de que o Senhor não o havia enviado, de que ele era um falso profeta e de que sua mensagem era mentirosa. A mensagem de Hananias era agradável aos ouvidos, era uma boa notícia para o povo de Deus daqueles dias, era o que o povo mais queria ouvir, era o que mais desejava, mas era uma mensagem mentirosa, e por isso Deus o condenou, e por isso ele morreu.

Igualmente, se Deus enviar um profeta hoje, ou no futuro, ele deve concordar com os que vieram antes, isto é, com os profetas do Antigo Testamento, com os do Novo e com Eilen White. Se a sua mensagem for de oposição ao que eles ensinaram, então sabemos que não provém de Deus.

Agora, vamos examinar o que dois profetas do passado escreveram a respeito de marcação de datas.

O ensino de João

O apóstolo João, em Apocalipse 10, diz algo importante. Vamos ver o relato, verso por verso.

O verso 1 mostra um anjo diferente de outros anjos do Apocalipse. Ele se apresenta da mesma maneira que Deus e Seu Filho, quando Eles aparecem em outros lugares da Escritura.

No verso 2, a idéia é que antes o livrinho estivera fechado, mas agora se encontra aberto. Além disso, a mensagem desse anjo está relacionada ao tempo. Devemos examinar a Bíblia para descobrir um livro que possuía as seguintes características: (a) é pequeno (b), estivera fechado e (c) está relacionado ao tempo. Creio que o livro de Daniel, particularmente as profecias seladas relativas ao tempo do fim, é o livrinho, agora aberto na mão do anjo (Daniel 2:4). A posição que ele assume colocando um pé sobre o mar e outro sobre a terra indica sua autoridade sobre o mundo, bem como o valor de sua mensagem para toda a humanidade.

“O poderoso anjo que instruiu a João não era nenhuma outra personagem senão Cristo. Colocando o Seu pé direito sobre o mar e o esquerdo sobre a terra seca, mostra o papel que está desempenhando nas cenas finais da grande controvérsia com Satanás. Esta posição denota o Seu poder e autoridade supremos sobre toda a terra”, comenta Ellen White no SDABC, vol. 7, pág. 971.

Os versos 3e4 apresentam uma visão simbólica. O profeta ouviu sete trovões falarem e entendeu sua mensagem; estava a ponto de escrevê-la, mas uma voz do Céu lho proibiu. Não seria proveitoso para o povo de Deus conhecer aquela mensagem.

“A luz especial dada a João, expressa nos sete trovões, foi uma delineação dos eventos que transpirariam sob as mensagens do primeiro e segundo anjos. Não era o melhor para o povo saber estas coisas, pois a sua fé devia ser necessariamente provada”, diz Ellen White, na mesma obra.

No verso 8, comer o livro indica o recebimento da mensagem de Deus, a assimilação e o entendimento da mesma. Isso ilustra adequadamente o que ocorreu aos adventistas/mileritas, especialmente entre 1842 e 1844. Retrata sua alegria ao receberem a mensagem da breve volta de Jesus; de fato, uma mensagem doce como o mel. Contudo, quando chegou o dia tão esperado, 22 de outubro de 1844, e Jesus não regressou, amargo foi o seu desapontamento. Amargo como o fel.

Voltando aos versos 5 e 6, o anjo que simboliza Cristo jura em nome dAquele que é o Criador, isto é, dEle mesmo: “Já não haverá mais demora.” Em grego, a língua em que o Apocalipse foi originalmente escrito, a palavra que aparece aqui é cronos. É a mesma palavra que aparece dezenas de vezes no Novo Testamento, traduzida por “tempo”. Exemplos: Apocalipse 2:1; 6:11; 20:3. O dicionário de grego afirma que ela significa “tempo, duração, um período de tempo”. A Bíblia de Jerusalém, uma das traduções mais perfeitas para a nossa língua, reza assim: “Já não haverá mais tempo.”

Que tempo é esse?

  1. Ele está relacionado com o livro de Daniel.
  2. Ele está relacionado com a experiência dos adventistas mileritas que esperavam o retorno de Cristo em 22 de outubro de 1844.
  3. Ele está relacionado, de acordo com o verso 7, com a sétima trombeta, cujo conteúdo aparece em Apocalipse 11:15-18. Observando os últimos dois versículos, percebemos que essa trombeta e, portanto, o tempo da profecia do capítulo 10 estão relacionados com o julgamento dos mortos e com o santuário.

Continuamos a perguntar: que “tempo” é esse que terminou? Não é o “tempo” da história humana, porque o mundo e a história continuam até hoje. Não é o “tempo” da graça, da oportunidade de salvação, porque ainda hoje os homens continuam se arrependendo e sendo salvos, e você e eu somos prova disso. O “tempo” mencionado nessa profecia é o tempo profético. O anjo está jurando que nunca mais haverá outro tempo profético, nunca mais haverá outra profecia que envolva um tempo específico, uma data marcada.

É por essa razão (verso 11) que o povo da profecia, representado por João, deveria continuar a profetizar e a anunciar a mensagem de Deus.

O último tempo profético, a última data marcada é a que aparece no livro de Daniel, naquela porção que Deus mandou selar e que diz respeito à profecia das 2.300 tardes e manhãs, que terminou em 22 de outubro de 1844.

O povo de Deus acertara na data, mas errara no acontecimento. Naquela ocasião, o Senhor Jesus não veio como esperavam, mas, no santuário celestial, deixou o lugar santo e passou para o lugar santíssimo, onde se encontra a arca da aliança, com os Dez Mandamentos originais, e começou a julgar os mortos para determinar o galardão de Seu povo.

Após o desapontamento de 1844, alguns adventistas/mileritas, que vieram a tornar-se os pioneiros da Igreja Adventista do Sétimo Dia, entenderam, estudando Apocalipse 10, que o grande desapontamento de 1844 fora previsto por Deus e revelado a João, em Patmos, mais de 1.700 anos antes que ele ocorresse. O próprio Deus estabelecera uma profecia com data marcada para cumprir-se. Isso ocorreu para provar o povo de Deus, que se dizia desejoso de aguardar a Cristo. E de fato provou, de modo que muitos não suportaram a prova e se afastaram dos caminhos de Deus.

Agora, em Apocalipse 10, Deus está dizendo que nunca mais haverá outra data marcada. Como Deus utilizou o dilúvio uma vez e disse que nunca mais usaria tal método, também usou a marcação de datas para o Seu propósito, mas prometeu nunca mais fazer uso desse método.

Portanto, no último livro da Bíblia, um profeta genuíno, João, apresenta claramente a mensagem de que nunca mais haverá um tempo profético, uma data marcada. Observe que nessa profecia o Criador não apenas fala, não apenas promete, mas Ele jura, e, como não há nenhum nome maior que o Seu pelo qual jurar, Ele faz um solene juramento em Seu próprio nome: “Não haverá mais tempo.”

O que diz Ellen White

Comentando Apocalipse 10, Ellen White escreveu: “Este tempo, que o anjo declara com juramento solene, não é o fim da história deste mundo, nem do tempo probatório, mas do tempo profético que precederia o advento de nosso Senhor. Após este período não terá outra mensagem sobre o tempo definido. Após este período de tempo abrangendo de 1842 a 1844, não haverá nenhum vestígio de tempo profético. O cálculo mais longe atinge o outono de 1844.” Isso também está no Comentário Bíblico Adventista.

Por essa citação, já se pode ter uma idéia do pensamento de Ellen White com relação à marcação de datas. Contudo, para que ninguém tenha dúvida, vamos examinar mais algumas de suas citações (há muitas outras) que aparecem no primeiro volume do livro Mensagens Escolhidas, e em Testemunhos para Ministros (os grifos foram acrescentados):

  • “Tenho sido repetidamente advertida com referência a marcar tempo. Nunca mais haverá para o povo de Deus uma mensagem baseada em tempo. Não devemos saber o tempo definido nem para o derramamento do Espírito Santo nem para a vinda de Cristo.”
  • “O Senhor mostrou-me que a mensagem deve ir, e que não deve depender de tempo: pois o tempo não será nunca mais uma prova. Vi que alguns estavam ficando com uma falsa excitação, nascida de pregar o tempo; vi que a terceira mensagem angélica pode subsistir sobre seu próprio fundamento, e que não precisa de nenhum tempo para fortalecê-la e que ela irá com forte poder e fará sua obra e será abreviada em justiça.”

Em 1844, um homem estava marcando tempo e espalhando largamente seus argumentos para provar suas teorias. Ellen White ficou sabendo disso em uma reunião campal. Ela mesma conta a resposta que deu:

  • “… eu disse ao povo que não necessitava dar atenção à teoria desse homem pois o acontecimento que ele predizia não havia de ter lugar. Os tempos e estações, Deus estabeleceu por seu próprio poder. E por que não nos deu Deus esse conhecimento? Porque não faríamos dele o devido uso, caso Ele assim fizesse. Desse conhecimento viria em resultado um estado de coisas entre nosso povo, que retardaria grandemente a obra de Deus no preparar um povo para subsistir naquele grande dia que há de vir. Não devemos viver em excitação acerca de tempo.”
  • “Não há, porém, nenhum mandamento para ninguém pesquisar as Escrituras, a fim de verificar, se possível, quando terminará o tempo de graça. Deus não tem tal mensagem para quaisquer lábios mortais. Ele não quer que nenhuma língua mortal declare aquilo que Ele ocultou em Seus secretos concílios.”
  • “Em vez de viver na expectativa de algum tempo especial de excitação, cumpre-nos aproveitar sabiamente as oportunidades presentes, fazendo o que deve ser feito para que almas sejam salvas.”
  • “Precavenham-se todos os nossos irmãos e irmãs de qualquer que marque tempo para o Senhor cumprir Sua palavra a respeito de Sua vinda, ou acerca de qualquer outra promessa de especial importância, por Ele feita. ‘Não nos pertence saber os tempos ou as estações que o Pai estabeleceu pelo Seu próprio poder.’ Falsos mestres podem parecer muito zelosos da obra de Deus, e podem despender meios para apresentar ao mundo e à igreja as suas teorias; mas, como misturam o erro com a verdade, sua mensagem é de engano, e levará almas para as veredas falsas. Deve-se-lhes fazer oposição, não porque sejam homens maus, mas porque são mestres de falsidades e procuram colocar sobre a falsidade o sinete da verdade.”

Em 1893, quando se encontrava na Austrália, Ellen White escreveu uma carta a um de nossos irmãos que estava marcando datas:

  • “Não sois o único homem que o diabo tem enganado nessa questão. … Durante os últimos quarenta anos, um homem após outro tem se levantado, alegando que o Senhor o enviou com a mesma mensagem; mas permiti-me dizer-vos-, como a eles tenho dito, que essa mensagem que proclamais é um dos enganos satânicos destinados a criar confusão entre as igrejas.”

A vitória

Faço-lhe agora uma pergunta: baseado na Palavra de Deus, o que você pensa a respeito dessas pessoas que têm anunciado datas para o cumprimento dos eventos finais? Sim, são falsos profetas. Certamente foram enviadas, mas não por Deus. Consciente ou inconscientemente, estão trabalhando a favor de Satanás e contra o Senhor Jesus e Seu povo. Os falsos profetas se vestem como ovelhas e parecem ovelhas (usam bastante a Bíblia e os escritos de Ellen White e até dizem e fazem algumas coisas boas), mas não são ovelhas; são lobos devoradores.

É para que não sejamos enganados e devorados por eles que Deus capacitou sua igreja a discernir entre o verdadeiro e o falso. Primeiramente, Deus nos deu Sua Palavra. Ouvindo e praticando, estaremos firmados sobre a Rocha. Em segundo lugar, Ele nos deu o dom de profecia. Deus sabia que os nossos dias seriam os mais perigosos e difíceis da história humana, e por essa razão nos legou as milhares de páginas do Espírito de Profecia, de modo que pudéssemos ser mais do que vencedores. Em terceiro lugar, Deus deu a alguns dos membros de sua igreja a capacidade de discernir o mal e guiar com segurança o Seu povo.

Não sejamos cristãos instáveis, inconstantes; vamos fazer uso desses três recursos concedidos pelo Céu para que estejamos firmados sobre a Rocha.

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