Quatro fatos reconhecidos por historiadores que confirmam a veracidade do relato bíblico sobre a ressurreição de Jesus
Um dos textos bíblicos que considero mais significativos é o de 1 Coríntios 15:14, que diz o seguinte: “Se Cristo não ressuscitou, é vã a nossa pregação, e vã, a vossa fé”. Essas palavras não poderiam ser mais verdadeiras. Como bem afirmou William Craig, filósofo e teólogo cristão, “o judaísmo pode sobreviver sem Moisés; o budismo, sem Buda; o islamismo, sem Maomé; o cristianismo, porém, não pode sobreviver sem Cristo” (Apologética Contemporânea, p. 276). A crença na ressurreição de Jesus se encontra no próprio cerne da religião cristã. De acordo com Paulo, ela é o próprio centro de nossa fé. Se o que as Escrituras afirmam a respeito da ressurreição não é verdade, então todas as crenças cristãs entram em colapso. Pensei em questões como essas nos últimos dias, enquanto o mundo cristão celebrava a Semana Santa. O domingo de Páscoa, que deveria ser chamado apenas de domingo da ressurreição, relembra o fato de que Cristo venceu a morte, saindo da sepultura para retornar ao Céu e continuar Seu ministério de redenção.
LEIA TAMBÉM:
O sepulcro vazio
Infelizmente, cada vez mais o relato dos evangelhos acerca da ressurreição de Jesus vem sendo interpretado de maneira simbólica, visto que um número crescente de pessoas rejeita a ideia de uma ressurreição literal e histórica. Por exemplo, uma pesquisa realizada pelo Instituto ComRes para a BBC em 2017 revelou que 23% dos cristãos britânicos não acreditavam na ressurreição de Jesus. Mais preocupante ainda foi o fato de 57% dos cristãos que frequentavam a igreja pelo menos uma vez por semana terem dito que não criam que Jesus tenha realmente ressurgido dos mortos. Quando observamos esses dados, nos perguntamos o que aconteceu com a Inglaterra de homens como John Wesley, William Carey, William Wilberforce, George Whitefield, Charles Spurgeon e John Stott? A fervorosa Inglaterra de Wesley tornou-se ateia nos tempos de Richard Dawkins.
Desde que pensadores cristãos, a exemplo de Rudolf Bultmann, reinterpretaram as narrativas dos evangelhos apenas como metáforas existenciais a fim de torná-las atraentes ao leitor moderno, um mar de relativismo inundou a igreja cristã, e provocou um esfriamento da fé como se vê em nossos dias. A grande questão é que os evangelhos também reivindicam a historicidade e autenticidade dos eventos ali narrados. Uma leitura fiel dos relatos da ressurreição de Cristo deve levar em consideração que os autores não estavam criando um conto de fadas, mas descrevendo acontecimentos que eles presenciaram (1Co 15:3-7; ver também 1Jo 1:1-4). Assim, nos perguntamos que evidências existem de que a ressurreição de Jesus é um evento histórico. William Lane Craig, que se tornou muito conhecido por seus debates com ateus, resume quatro fatos reconhecidos por historiadores, os quais apresentam fortes indícios de que nossa fé está fundamentada sobre firme alicerce (The Apologetics Study Bible: Real Questions, Straight Answers, Stronger Faith [A Bíblia de estudo apologética: questões reais, respostas diretas, mais firme fé, p. 1728-1734]).
1) Jesus foi sepultado por José de Arimateia em uma tumba. Se levarmos em consideração que havia muita hostilidade contra líderes judeus no período do cristianismo primitivo, é muito improvável que a história de que José de Arimateia, um membro da corte judaica, sepultou o corpo de Cristo, tenha sido inventada. Além disso, a história do sepultamento de Jesus não apresenta características de lenda. “Por essas e outras razões, a maioria dos críticos do Novo Testamento concordam que Jesus foi, de fato, sepultado por José de Arimateia em uma tumba”, afirma Craig (p. 1728).
2) A sepultura de Jesus foi encontrada vazia por um grupo de mulheres que O seguiam. Existem várias razões que atestam que são fidedignos os relatos dos evangelhos quanto ao fato de a tumba de Jesus ter sido encontrada vazia por um grupo de mulheres. Uma delas, e talvez a principal, é que, numa cultura patriarcal como a judaica, não se dava muito crédito ao testemunho de mulheres. Por essa razão, o fato de os evangelhos não omitirem que as coisas ocorreram dessa forma é uma forte evidência de que as narrativas são verdadeiras. Além disso, elas visivelmente não passaram por nenhuma espécie de embelezamento a ponto de parecer lendas. “Por essas e outras razões, a maioria dos estudiosos se apega firmemente à confiabilidade do testemunho bíblico a respeito da tumba vazia de Jesus”, acrescenta Craig (p. 1728).
3) Diferentes indivíduos e grupos viram Jesus vivo após Sua morte. Ainda que alguns críticos aleguem que os evangelhos são narrativas míticas, o que dizer da afirmação de Paulo em 1 Coríntios 15:5-8? Ele estava escrevendo uma carta, um gênero literário que tem a característica de ser tão factual quanto os evangelhos, que também se encaixam no gênero “biografia”. Além disso, não dependemos somente de um relato da ressurreição. As narrativas das aparições do Cristo ressurreto são múltiplas nos evangelhos, sem mencionar as cartas (1 Coríntios 15:5-8; Filipenses 3:9-10), os Atos dos Apóstolos (1:6-11) e mesmo o Apocalipse (1:12-16), para citar apenas alguns exemplos. “Mesmo os críticos mais céticos admitem que os discípulos viram Jesus vivo após Sua morte”, Craig completa (p. 1729).
4) Os discípulos creram “tão fortemente que Deus ressuscitou Jesus dos mortos que eles estavam dispostos a morrer por essa crença” (p. 1729). Diante desse fato, devemos nos perguntar: “Quem estaria disposto a morrer por uma lenda?” Se Jesus tivesse aparecido isoladamente apenas para uma pessoa após a ressurreição, alguém poderia considerar o relato dessa única testemunha como loucura ou devaneio. Mas o que dizer de um grupo que estava disposto a enfrentar mesmo as piores hostilidades de autoridades judaicas e romanas?
A melhor explicação para a pergunta acima, bem como para os fatos anteriores, é que Jesus realmente ressuscitou. Porém, a maior evidência da ressurreição de Jesus é a experiência pessoal de cada crente com o Cristo ressurreto, por meio do testemunho do Espírito Santo no coração (Rm 8:11, 16-17). Como ouvi alguém dizer: “Eu sei que Cristo está vivo porque eu falei com Ele nesta manhã”. Essa deve ser nossa experiência diária!
NILTON AGUIAR, mestre em Ciências da Religião, é professor de grego e Novo Testamento na Faculdade Adventista da Bahia e está cursando o doutorado em Novo Testamento na Universidade Andrews (EUA)