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Breves esclarecimentos sobre aspetos proféticos

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Nos últimos anos, têm sido debatidas entre os adventistas algumas interpretações alternativas a assuntos proféticos que, mais do que colocar em causa o nosso entendimento escatológico, têm provocado alguma celeuma e perturbação. Pior ainda, é quando essas interpretações incorrem em erros que levam a outros erros ou até mesmo minam princípios de interpretação e entendimento.

Não é o propósito aqui fazer uma análise elaborada e detalhada de cada um desses pontos. Faremos apenas uma breve revisão de matéria que nos permita perceber as falhas de algumas dessas interpretações que têm surgido. O objetivo não é denunciar pessoas, mas sim levar o estudante da Bíblia ao correto entendimento dos textos e profecias em causa.

Apocalipse 4, 5

Tem sido sugerido que os capítulos 4 e 5 de Apocalipse se referem à entrada de Jesus no lugar Santíssimo do Santuário celestial em 1844, dando assim início ao juízo investigativo, o que contraria a posição prevalecente de que o relato que João ali faz ocorreu no ano 31, aquando da ascensão definitiva de Cristo ao céu após a sua vida, morte e ressurreição nesta terra, descrevendo a Sua consequente entronização diante de todos os exércitos celestiais.

Pensamos que breves argumentos serão suficientes para demonstrar que Apocalipse 4 e 5 não pode referir-se ao episódio ocorrido em 1844, nomeadamente a entrada de Jesus no lugar Santíssimo para início da obra de juízo investigativo.

1. Em Apocalipse 5:1 aparece um livro selado com sete selos. Após o clamor de um anjo acerca de quem será digno de abrir o livro com os selos, o versículo 5 aponta quem poderá abrir: o “Leão da tribo de Judá, a raiz de David”, uma referência óbvia a Jesus, identificado e confirmado como Cordeiro nos versículos 6-9.

Esse livro e em especial os seus selos são abertos em Apocalipse 6:1-17 e 8:1. Esses selos representam diferentes períodos da História da igreja cristã, começando na época de João, no primeiro século, e estendendo-se até ao fim do tempo: o primeiro selo coincide com o tempo da igreja de Éfeso (2:17), até ao final do primeiro século; o segundo coincide com o tempo da igreja de Esmirna (2:8-11), até ao ano 313; o terceiro coincide com o tempo da igreja de Pérgamo (2:12-17), até ao ano 538; o quarto coincide com o tempo da igreja de Tiatira (2:18-29), até 1517; o quinto selo decorre até meados de século XVIII; o sexto selo profetiza o terramoto de Lisboa de 1755, o escurecimento do sol de 1780 e a queda das estrelas de 1833 (6:12, 13) e segue até quase ao final da História da Terra.

Assim sendo, surge a pergunta: se os selos que Cristo recebe em Apocalipse 5 e são de seguida abertos apontam profeticamente para eventos da História da igreja cristã que começam logo no primeiro século, como será possível que o capítulo 5 descreva um evento ocorrido em 1844? A resposta só pode ser uma: o capítulo 5 não descreve eventos ocorridos em 1844.

[Para derrubar este raciocínio que fizemos, existe o argumento de que os 7 selos ainda hoje estão à frente no tempo. Mais abaixo, ao abordarmos as 7 trombetas, veremos que tal argumento é ilógico.

2. Em Apocalipse 4 temos menção à presença tanto do Pai (4:8) quanto do Espírito Santo (4:5, cf. 1:4) – Jesus não aparece. Já no capítulo 5, temos menção à presença do Pai (5:13, cf. 4:2, 9) e de Jesus (5:5, 6, 8, 12, 13) – o Espírito Santo não aparece. Por que razão Jesus (ainda) não aparece no capítulo 4 e o Espírito Santo (já) não aparece no capítulo 5?

Nos últimos dias da Sua passagem por este mundo, Jesus tinha advertido os discípulos para aguardarem por algo específico: “E eis que sobre vós envio a promessa de meu Pai; ficai, porém, na cidade de Jerusalém, até que do alto sejais revestidos de poder.” (Lucas 24:49) Esta promessa, este revestimento de poder seria o Espírito Santo que já tinha sido prometido antes: “E eu rogarei ao Pai, e ele vos dará outro Consolador, para que fique convosco para sempre; o Espírito de verdade, que o mundo não pode receber, porque não o vê nem o conhece; mas vós o conheceis, porque habita convosco, e estará em vós.” (João 14:16,17)

Portanto, quando Jesus fosse embora deste mundo, Ele enviaria o Espírito Santo para cá. Dar-se-ia uma espécie de substituição: Jesus sairia da Terra, entraria no céu; o Espírito Santo sairia do céu, entraria na Terra.

Mas, como já vimos, Jesus também tinha dito aos discípulos que o Espírito Santo não chegaria imediatamente no momento da Sua partida, mas que eles deveriam aguardar pela chegada do Espírito. E porque razão deveriam aguardar? Porque Jesus precisava ser entronizado ao chegar ao céu, ocupando ali o Seu lugar, permitindo então que o Espírito viesse para cá, em cumprimento da promessa.

Isto é confirmado no livro de Atos 2:32, 33: “Deus ressuscitou a este Jesus, do que todos nós somos testemunhas. De sorte que, exaltado pela destra de Deus, e tendo recebido do Pai a promessa do Espírito Santo, derramou isto que vós agora vedes e ouvis” – notemos no uso da expressão “exaltado pela destra de Deus”, que faz lembrar Apocalipse 5:1, 7.

Mais confirmado ainda é por Ellen White: “A ascensão de Cristo ao Céu foi, para Seus seguidores, um sinal de que estavam para receber a bênção prometida. Por ela deviam esperar antes de iniciarem a obra que lhes fora ordenada. Ao transpor as portas celestiais, foi Jesus entronizado em meio à adoração dos anjos. Tão logo foi essa cerimónia concluída, o Espírito Santo desceu em ricas torrentes sobre os discípulos, e Cristo foi, de fato, glorificado com aquela glória que tinha com o Pai desde toda a eternidade. O derramamento pentecostal foi uma comunicação do Céu de que a confirmação do Redentor havia sido feita. De conformidade com Sua promessa, Jesus enviou do Céu o Espírito Santo sobre Seus seguidores, em sinal de que Ele, como Sacerdote e Rei, recebera todo o poder no Céu e na Terra, tornando-Se o Ungido sobre Seu povo.” Atos dos Apóstolos, p. 20

E assim temos Apocalipse 4 e 5: Jesus ascende aos céus no ano 31, após a sua ressurreição, e “substitui” o Espírito Santo, que desce até à Terra. Sendo que as cenas destes capítulos ocorrem integralmente no céu, é por isso que o Espírito Santo (ainda) aparece no capítulo 4, mas (já) não aparece no capítulo 5, e é por isso que Jesus (ainda) não aparece no capítulo 4 mas (já) aparece no capítulo 5.

3. Finalmente, encontramos outra evidência de que o capítulo 5 de Apocalipse aconteceu no ano 31 em “O Desejado de Todas as Nações”, p. 590 e 591, pela pena de Ellen White.

Descrevendo a cerimónia de entrada de Cristo no céu após sua ascensão, a serva do Senhor relatou como segue. Não colocaremos o relato integral desse episódio (poderá confirmá-lo nas páginas atrás mencionadas), mas apenas o término do mesmo, chamando a sua particular atenção para as referências bíblicas que Ellen White coloca no final dos dois últimos parágrafos.

“Com inexprimível alegria, governadores, principados e potestades reconhecem a supremacia do Príncipe da Vida. A hoste dos anjos prostra-se perante Ele, ao passo que enche todas as cortes celestiais a alegre aclamação: “Digno é o Cordeiro, que foi morto, de receber o poder, e riquezas, e sabedoria, e força, e honra, e glória, e ações de graças”! Apocalipse 5:12.

Hinos de triunfo misturam-se com a música das harpas angélicas, de maneira que o Céu parece transbordar de júbilo e louvor. O amor venceu. Achou-se a perdida. O Céu ressoa com altissonantes vozes que proclamam: “Ao que está assentado sobre o trono, e ao Cordeiro, sejam dadas ações de graças, e honra, e glória, e poder para todo o sempre”. Apocalipse 5:13.”

Portanto, Ellen White aponta claramente o capítulo 5 de Apocalipse como estando enquadrado no momento em que Cristo entrou no céu após a sua ascensão.

Apocalipse 17

O capítulo 17 de Apocalipse é um dos textos bíblicos mais estudados e debatidos entre os académicos adventistas, dada a sua enorme riqueza e complexidade de símbolos. Dentro deste contexto, o significado dos 7 reis que aparecem nos versículos 9 e 10 têm sido interpretados como sendo 7 poderes ou nações que, ao longo da História, têm assumido impacto junto do povo de Deus.

A maioria desses estudiosos apenas diverge acerca de qual nação será a primeira nesse fluxo histórico: Egito, Assíria, Babilónia, Medo-pérsia, Grécia, Roma imperial, Roma papal é uma das hipóteses; outros começam pela Assíria e colocam os EUA (besta da terra, Apocalipse 13:11) lá quase no final da lista; outros ainda começam em Babilónia e acrescentam os EUA e a revolução francesa (besta do abismo, Apocalipse 11:7). O que é certo e consensual é o uso de impérios, nações, poderes, sistemas globais para identificar os 7 reis, jamais se usando pessoas específicas de qualquer uma ou de todas essas nações.

Contudo, uma outra leitura entende que esses 7 reis são 7 papas, pontífices romanos, contados em linha sucessória a partir de um determinado ponto na História, nomeadamente 1929, com a assinatura do tratado de Latrão entre a Santa Sé e o estado italiano.

1. O primeiro problema desta teoria é que interpreta o termo “reis” (17:10) como sendo pessoas, homens específicos à cabeça de uma nação ou poder, quando em toda a leitura profética “reis” são entendidos como a nação, o poder em si.

Por exemplo: em Daniel 2:38, interpretando o sonho de Nabucodonosor, o profeta declarou ao monarca da Babilónia: “Tu és a cabeça de ouro”. Acontece que quando Babilónia foi conquistada pela Medo-pérsia, o rei em Babilónia já não era Nabucodonosor mas sim Belsazar (Daniel 5:1). Isto quer dizer que caso em Daniel 2:38 o profeta se estivesse a referir à pessoa de Nabucodonosor como sendo, ele mesmo, a cabeça de outro, essa interpretação estaria errada – na verdade, a expressão “Tu és a cabeça de ouro” era referência a Babilónia. Como sabemos isso? Porque em Daniel 2:39, logo de seguida, Daniel afirma: “Depois de ti se levantará outro reino”. E quando se levantou outro reino? Apenas depois de Belsazar, neto de Nabucodonosor. Portanto, a cabeça de ouro era Babilónia, não Nabucodonosor, como certamente todos concordam.

Assim sendo, por que razão interpretar seletivamente os 7 reis de Apocalipse 17 como sendo 7 homens, sejam papas, imperadores ou presidentes? Por que razão profeticamente “reis” sempre aparecem como reinos, nações, poderes, mas aqui especificamente seriam pessoas? Inclusive, no versículo 11 é mencionado que “a besta que era e já não é, é ela também o oitavo rei, e é dos sete” – “besta” também representa sempre um reino, uma nação, um poder; será que aqui neste versículo “besta” estaria a representar um homem?

Ainda no contexto de Apocalipse 17, fazemos outra questão: se os 7 reis do versículo 10 são 7 homens (no caso, papas) e não 7 nações, quem são os 10 reis do versículo 12? Serão os 10 últimos papas? Serão os 10 últimos presidentes americanos? Serão os 10 últimos secretários-gerais da Nações Unidas (apenas para evocar uma teoria que também existe)?

Parece-nos que nenhuma destas perguntas pode ter outra resposta a não ser esta: “reis” representam reinos, nações, poderes, e não homens.

2. Todo o raciocínio que lê os 7 reis de Apocalipse 17:9, 10 como sendo 7 papas, em linha sucessória desde 1929, parte da premissa que a ferida mortal infringida ao papado romano (Apocalipse 13:3) foi curada em 1929, daí se contar o número de papas que exerceram o pontificado romano desde então. Contudo, esta premissa não está correta; o papado romano não recuperou da ferida mortal em 1929, o que de imediato compromete todo o fundamento desta teoria.

Para explicarmos por que razão a ferida mortal no papado não foi curada em 1929, comecemos por perguntar: o que é que aconteceu ao papado em 1798? Qual a “ferida” que o atingiu?

Desde o século VI, o papado dispunha de um poder imenso junto das nações da velha Europa, lugar da sua sede e quase completa influência. Veja as evidências: “O altivo pontífice também pretendia o poder de depor imperadores; e declarou que sentença alguma que pronunciasse poderia ser revogada por quem quer que fosse, mas era prerrogativa sua revogar as decisões de todos os outros.” Ellen White, O Grande Conflito, p. 57; “O papado se tornou o déspota do mundo. Reis e imperadores curvavam-se aos decretos do pontífice romano. O destino dos homens, tanto temporal como eterno, parecia estar sob seu domínio. … Seu clero era honrado e liberalmente mantido. Nunca a Igreja de Roma atingiu maior dignidade, magnificência ou poder.” Ellen White, O Grande Conflito, p. 60

Portanto, vemos aqui que o domínio de Roma abrangia tudo: poderes religioso, secular, político, civil, militar (usando a força dos estados), etc., tudo estava sobre a ordem do pontífice romano.

Então, algo mudou. Em fevereiro de 1798, o General francês Berthier entrou em Roma, e numa ação militar que durou poucos dias, prendeu o Papa Pio VI, proclamou uma república e retirou o poder temporal (secular, político, civil) ao papado, cumprindo a profecia de Apocalipse 13:3 “Vi uma de suas cabeças como ferida de morte.”

A inspiração profética confirma este cumprimento profético: “Nesta ocasião [1798] o papa foi aprisionado pelo exército francês, e o poder papal recebeu a chaga mortal.” Ellen White, O Grande Conflito, p. 439

Cessou aqui – melhor dizendo, interrompeu-se por algum tempo – o domínio absoluto, despotismo e tirania da igreja romana. Mas, o mesmo versículo de Apocalipse que já lemos (13:3) continua dizendo: “E a sua chaga mortal foi curada”, o que indica que essa interrupção chegaria ao fim e o papado seria novamente restituído ao seu poderio anterior a 1798.

É justamente aqui que a maioria dos autores e comentadores adventistas chega a 1929. O que aconteceu neste ano de significativo com o papado? A 7 de junho de 1929, o reino de Itália e a Santa Sé ratificavam uma série de três tratados, assinados a 11 de fevereiro do mesmo ano, cujos documentos atestavam:

a) O reconhecimento total da soberania da Santa Sé no estado do Vaticano;
b) Uma concordata regulando a posição da religião católica no Estado;
c) Uma convenção financeira acordando a liquidação definitiva das reivindicações da Santa Sé por suas perdas territoriais (estados pontifícios) e de propriedade.

Portanto, o que Roma recuperou em 1929 foi território, poder religioso (não obrigatório, não vinculativo) e bens patrimoniais e financeiros. Assim sendo, pergunta-se: em 1929, Roma recuperou o poder temporal (secular, político, civil) que havia perdido em 1798? A resposta é não.

Então, de que é que Roma recuperou em 1929? Pois bem, nesta data, Roma recuperou de uma outra ferida (permita o uso deste termo, apenas para fazer paralelo) que tinha sofrido em 1870: no dia 20 de setembro, e após alguns anos de disputas políticas internas e europeias, o Rei Victor Emanuel II (monarca do reino de Itália) anexou a cidade de Roma como parte do processo de unificação da península italiana, retirando assim a soberania papal sobre todos os territórios conhecidos como estados pontifícios ou papais.

Resumindo: em 1929, Roma recuperou, sarou essencialmente a ferida que tinha sofrido em 1870 – os territórios físicos do seu domínio. Mas não houve recuperação nem sarar do seu poder temporal perdido em 1798!

Vejamos o que diz a Bíblia, no texto já usado antes: “Vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta.” Apocalipse 13:3. Portanto, o oráculo profético de Patmos indica que a seguir à ferida de morte (sofrida em 1798) ser curada, toda a Terra se maravilhará após (ou diante, ou com) a besta (papado romano).

Perguntamos: a Terra toda já se maravilhou com a besta após 1929 e até agora? Não, claro que não. Então, por dedução lógica, isso quer dizer e confirma que a ferida de morte sofrida em 1798 não foi curada naquela data.

Neste momento deverá estar a pensar: então, será que a ferida papal de 1798 já foi curada? Se sim, quando foi? Se não, quando será? Veja como Ellen White comenta esse momento em que, de facto, toda a Terra se maravilhará após a besta, ato contínuo à cura da ferida sofrida em 1798.

“A profecia do Capítulo 13 do Apocalipse declara que o poder representado pela besta de chifres semelhantes aos do cordeiro fará com que a “Terra e os que nela habitam” adorem o papado, ali simbolizado pela besta “semelhante ao leopardo.” A besta de dois chifres dirá também “aos que habitam na Terra que façam uma imagem à besta;” e, ainda mais, mandará a todos, “pequenos e grandes, ricos e pobres, livres e servos”, que recebam o “sinal da besta.” Apocalipse 13:11-16. Mostrou-se que os Estados Unidos são o poder representado pela besta de chifres semelhantes aos do cordeiro, e que esta profecia se cumprirá quando aquela nação impuser a observância do domingo, que Roma alega ser um reconhecimento especial de sua supremacia. Mas nesta homenagem ao papado os Estados Unidos não estarão sós. A influência de Roma nos países que uma vez já lhe reconheceram o domínio, está ainda longe de ser destruída. E a profecia prevê uma restauração de seu poder. “Vi uma de suas cabeças como ferida de morte, e a sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta.” Apocalipse 13:3. A aplicação da chaga mortal indica a queda do papado em 1798. Depois disto, diz o profeta: “A sua chaga mortal foi curada; e toda a Terra se maravilhou após a besta.” Paulo declara expressamente que o homem do pecado perdurará até ao segundo advento. 2 Tessalonicenses 2:8. Até mesmo ao final do tempo prosseguirá com a sua obra de engano. E diz o escritor do Apocalipse, referindo-se também ao papado: “Adoraram-na todos os que habitam sobre a Terra, esses cujos nomes não estão escritos no livro da vida.” Apocalipse 13:8. Tanto no Velho como no Novo Mundo o papado receberá homenagem pela honra prestada à instituição do domingo, que repousa unicamente na autoridade da Igreja de Roma.” Ellen White, O Grande Conflito, p. 579

Vemos que Ellen White relaciona diretamente a cura da ferida de 1798 com o reconhecimento do domingo como dia santo (que na verdade é o falso Sábado) – será aqui que Roma recuperará totalmente o que perdeu em 1798: o poder temporal (secular, político, civil), agora associado ao religioso que já dispõe. E isto será feito com uma importante e decisiva intervenção dos Estados Unidos da América do Norte, o que não sucedeu até ao dia de hoje.

Podemos com algum esforço dizer que em 1929 a ferida começou a curar ou se deram os primeiros passos nessa cura? Possivelmente, sim; mas dizer que a ferida mortal de Apocalipse 13:3 foi curada em 1929, simplesmente não está correto.

Assim sendo, assumir a data de 1929 como algo de profeticamente marcante é um exagero de interpretação. Todas as leituras que surjam após e baseadas nesta premissa estão comprometidas à nascença.

As 7 trombetas

As 7 trombetas proféticas mencionadas em Apocalipse 8:6-9:21 e 11:15-19, são normalmente entendidas como se referindo a juízos da parte de Deus (Levítico 25:9, Juízes 6, Sofonias 1:16).

Mais ainda, o seu cumprimento é entendido como se estendendo cronologicamente ao longo da História, desde o tempo de João, no primeiro século até ao momento da segunda vinda de Jesus. Este é o mesmo entendimento sobre as 7 igrejas e os 7 selos: começam no tempo de João e desenvolvem-se até ao tempo do fim, por vezes simultaneamente entre si, outras vezes não.

Existe, contudo, uma linha de pensamento sugerindo que as 7 trombetas de Apocalipse se referem a acontecimentos que, hoje, estão ainda no futuro. Cronologicamente, sugere-se que tivemos já as 6 primeiras igrejas de Apocalipse 2 e 3, estamos atualmente no tempo da sétima igreja (Laodiceia), ao que se seguirá os sete selos de Apocalipse 6 e 8:1 e, depois disso, as 7 trombetas.

1. Esta tese é defendida partindo do princípio que estes símbolos proféticos da primeira parte do livro de Apocalipse, descritos com recurso comum ao número 7, estão dispostos em ordem cronológica.

Tal premissa é desde logo inconsistente com o estilo literário de Apocalipse. Por exemplo: as 7 igrejas são concluídas em 3:22. Depois, nos capítulos 4 e 5 temos, como já vimos, a cerimónia de entronização de Cristo após a sua ascensão, no ano 31 – nesse caso, se houvesse ordem cronológica na redação do livro, a igreja de Laodiceia teria de estar no tempo antes do ano 31, ou a ascensão de Cristo teria de estar ainda no futuro! E mesmo admitindo a hipótese, que consideramos errada, de os capítulos 4 e 5 se referirem à entrada de Jesus no lugar Santíssimo do Santuário celestial em 1844, ainda assim a igreja de Laodiceia teria de estar no tempo antes de 1844, o que sabemos não estar certo.

2. Verificamos também que na abertura do sétimo selo (Apocalipse 8:1) faz-se menção a “quase meia hora de silêncio do céu”. Esta “quase meia hora” (que são 7 dias e meio literais, partindo do princípio interpretativo de 1 dia profético = 1 ano literal) é um período de tempo profético que tem intrigado os estudiosos, uma vez que não se repete em nenhum outro ponto das Escrituras.

Precisamos aqui da ajuda de Ellen White, uma vez que há um texto que nos pode esclarecer. Em “Primeiros Escritos”, p. 16, lemos: “Todos nós entramos na nuvem, e estivemos sete dias ascendendo para o mar de vidro.”

O “mar de vidro” é referido duas vezes em Apocalipse: 15:2, onde os salvos (“vitoriosos da besta”) estão cantando com harpas; e 4:6, onde se descreve um trono no céu (4:1-6), o que só poderá ser o trono do próprio Deus.

E por que razão há silêncio no céu durante “quase meia hora”? Porque, de acordo, com Apocalipse 19:14, os exércitos do céu seguem, acompanham Jesus na Sua segunda vinda, deixando assim o céu vazio, sem ninguém para quebrar o silêncio.

Juntando tudo isto, facilmente concluímos que aquele texto de Ellen White se refere aos 7 dias que os salvos demoram a subir da terra até ao céu, aquando da segunda vinda de Jesus, que é o período de tempo de “quase meia hora” profética de Apocalipse 8:1, na abertura do sétimo selo.

Isso quer dizer que caso os relatos das 7 igrejas, 7 selos e 7 trombetas estejam em ordem estritamente cronológica, então a segunda vinda de Jesus acontecerá antes sequer do tempo da primeira trombeta! Repetindo e reforçando: nesta leitura, a primeira trombeta terá de acontecer após a segunda vinda de Jesus ou, na melhor das hipóteses, no momento dessa segunda vinda.

3. Em “O Grande Conflito”, p. 334, Ellen White confirma e comprova a correta interpretação do tempo referente à sexta trombeta:

“No ano de 1840 outro notável cumprimento de profecia despertou geral interesse. Dois anos antes, Josias Litch, um dos principais pastores que pregavam o segundo advento, publicou uma explicação de Apocalipse 9, predizendo a queda do Império Otomano. Segundo seus cálculos esta potência deveria ser subvertida “no ano de 1840, no mês de agosto”; e poucos dias apenas antes de seu cumprimento escreveu: “Admitindo que o primeiro período, 150 anos, se cumpriu exatamente antes que Deacozes subisse ao trono com permissão dos turcos, e que os 391 anos, quinze dias, começaram no final do primeiro período, terminará no dia 11 de agosto de 1840, quando se pode esperar seja abatido o poderio otomano em Constantinopla. E isto, creio eu, verificar-se-á ser o caso.” — Josias Litch, artigo no Signs of the Times, and Expositor of Prophecy, de 1º de agosto de 1840. No mesmo tempo especificado, a Turquia, por intermédio de seus embaixadores, aceitou a proteção das potências aliadas da Europa, e assim se pôs sob a direção de nações cristãs. O acontecimento cumpriu exatamente a predição.”

As quinta e sexta trombetas em Apocalipse têm dois períodos de tempo profético associado: “cinco meses” proféticos ou 150 anos literais (9:5, quinta trombeta) e “hora, dia, mês, ano” proféticos ou 391 anos e 15 dias literais (9:15, sexta trombeta). No texto de Ellen White que colocamos no parágrafo anterior, a mensageira do Senhor confirma que período o profético referente à sexta trombeta se cumpriu em 11 de agosto de 1840.

Assim sendo, se a sexta trombeta se cumpriu há precisamente 180 anos, como será possível que as 7 trombetas tenham o seu cumprimento ainda no futuro? A única resposta é: não é possível.

4. Mas fazemos ainda um outro raciocínio: imaginemos que os proponentes desta teoria admitem, concedem que, na verdade, o Apocalipse não está redigido em exata ordem cronológica, e que as 7 trombetas de Apocalipse acontecem antes da segunda vinda de Jesus, embora estejam todas no ainda no futuro; isto é, acontecem algures entre hoje e a segunda vinda de Jesus.

Ora, se as 7 trombetas estão ainda no futuro e acontecerão algures entre hoje e a segunda vinda de Jesus, então os tempos proféticos mencionados nas quinta e sexta trombetas (150 anos; 391 anos e 15 dias literais) forçosamente estão ainda no futuro. Portanto, neste caso, as conclusões seriam: a) aquele texto de Ellen White em “O Grande Conflito” está errado, é uma falsa interpretação profética; b) Jesus não voltará nos próximos 541 anos (150+391), o que implica marcar data profética após 1844.

A única conclusão lógica de tudo isto é que colocar as 7 trombetas de Apocalipse no futuro é um erro enorme e perigoso.

5. Recorre-se muitas vezes a um texto de Ellen White onde é mencionado o seguinte: “Solenes acontecimentos ainda ocorrerão diante de nós. Soará uma trombeta após a outra; uma taça após a outra será derramada sucessivamente sobre os habitantes da Terra.” (Mensagens Escolhidas, v. 3, p. 426)

Segundo alguns proponentes, isto indica que as 7 trombetas de Apocalipse estão ainda no futuro. Pelo exposto nos pontos anteriores, tal não pode ser. Podemos facilmente perceber a que se refere aquele texto de Ellen White recorrendo a Apocalipse 16.

Neste capítulo são apresentadas as “sete taças da ira de Deus” que serão “derramadas sobre a terra” (16:1). Ora, se quiser reler o texto acima de Ellen White é exatamente nestes termos que a mensageira de Deus se expressa: “uma taça após a outra será derramada sucessivamente sobre os habitantes da Terra”. Portanto, aqui Ellen White refere-se às sete últimas pragas que serão derramadas sobre um mundo perdido, já após o encerramento da porta da graça, que são seguramente juízos de Deus sobre os ímpios, daí o uso da imagem de “trombetas”. Nada mais do que isso.

Daniel 12

Um dos pontos mais controversos de interpretação profética diz respeito aos tempos mencionados em Daniel 12: argumenta-se que os 1260, 1290 e 1335 anos devem ser entendidos de forma literal e não simbólica.

Reproduzimos um breve artigo do Pr. Ángel Manuel Rodríguez, ex-diretor do Instituto de Pesquisas Bíblias da Conferência Geral, que resume muito bem as razões pelas quais esses períodos proféticos devem ser entendidos simbólica e não literalmente.

“Os adventistas seguem o método historicista de interpretação profética, pelo qual as profecias recebidas por Daniel abrangem o tempo desde os dias do profeta até o estabelecimento do reino de Deus. De acordo com essa abordagem, o princípio do dia/ano (Ezequiel 4: 6) é usado para interpretar períodos proféticos. A abordagem historicista afirma que esses períodos foram anos e que eles foram cumpridos durante o final da Idade Média.

Alguns adventistas agora argumentam que o princípio do dia/ano não se aplica a essas duas profecias e que esses períodos proféticos devem ser entendidos como dias literais de eventos a serem cumpridos antes da volta de Jesus. Eles são forçados a especular sobre quais eventos marcarão a conclusão desses períodos. Vamos examinar o contexto da passagem para obter orientação.

A. Contexto imediato e o tempo do fim. Nem tudo descrito em Daniel 12: 5-13 está relacionado ao tempo do fim. Por exemplo, o selamento do livro e o aumento do conhecimento começam antes desse tempo (versículos 4 e 9); é antes do tempo do fim que o ser celestial jura “por quem vive para sempre” (versículo 7), ocorre a quebra do poder do povo santo, e as “maravilhas” terminam (versículo 8). O refinamento do povo de Deus ocorre ao longo da história, não simplesmente no tempo do fim (versículo 10). Portanto, é incorreto dizer que, como o contexto imediato menciona o tempo do fim, os períodos proféticos pertencem ao mesmo tempo.

B. Períodos proféticos em Daniel. Mesmo que reconheçamos que os períodos proféticos estão em um contexto em que não há visões e que a linguagem é predominantemente literal, isso não significaria que os próprios dias são literais. Em Daniel, os períodos proféticos nunca são dados em forma visual. O profeta ouve ou lhes é dito por um ser celestial. Em Daniel 7:25, os três tempos e meio são introduzidos não durante a visão, mas durante a explicação do anjo sobre a visão. Em Daniel 8:14, os 2300 dias são dados no contexto de uma revelação na qual a linguagem é predominantemente literal. Finalmente, em Daniel 9 encontramos a profecia das 70 semanas dadas a Daniel por meio de uma explicação oral. Em todos esses casos, a linguagem usada na interpretação da visão é basicamente literal, mas os períodos proféticos não são. Eles são apresentados após a visão como informações adicionais, mas seu conteúdo simbólico não é totalmente explicado. É exatamente o que encontramos em Daniel 12:11, 12. Durante a apresentação oral, períodos proféticos são dados sem uma interpretação detalhada. Daniel é incapaz de entendê-los, mas ele é levado a acreditar que o povo de Deus os entenderá no futuro.

C. Conexão entre os períodos. Os 1290 dias são uma extensão dos 1260 dias mencionados em Daniel 7:25 e 12: 7 como um “tempo, tempos e metade de tempo”. A diferença em Daniel 12:11 é de 30 dias, sugerindo que um mês adicional foi adicionado para estender o período (uma prática comum nos calendários lunares). Como o período de 1290 dias se baseia nos 1260 dias e como os intérpretes historicistas reconhecem que os 1260 dias são anos, temos que concluir que o princípio dia/ano também se aplica aos 1290 dias.

A referência aos 1260 dias em Daniel 7:25 enfatizou o tempo durante o qual o povo de Deus sofreria perseguição. Daniel 12:7 enfatiza o momento em que as atividades dos inimigos de Deus terminariam. Os 1290 dias em Daniel 12:11 enfatizam o momento em que o tempo profético começa. Para sincronizar o início da profecia com um evento específico, o período é estendido adicionando um mês extra – em vez de 42 meses (1260 dias), agora temos 43 (1290 dias). Essa intercalação permite que o anjo intérprete seja mais preciso em relação ao evento que inicia o período, bem como a toda a sua extensão. O período profético de 1290 dias é então prorrogado por 45 dias extras, totalizando 1335 anos proféticos, com base no princípio do dia/ano.

Em conclusão, esses dois períodos são extensões de um período profético bem estabelecido e devem ser interpretados simbolicamente, de acordo com o restante da profecia.” Fonte: Biblical Research Institute

Terminamos este esclarecimento citando um texto de Ellen White que nos parece encaixar muito bem na exposição que fizemos, e que deve servir de orientação para qualquer estudo da Bíblia, particularmente a profecia.

“Tem havido uns e outros que, estudando a Bíblia, julgaram descobrir grande luz, e teorias novas, mas não têm sido corretas. As Escrituras são todas verdade, mas por aplicarem-nas mal, homens chegam a erradas conclusões. Achamo-nos empenhados em grande conflito, e ele se tornará mais rigoroso e decidido ao nos aproximarmos da luta final. Temos um inimigo vigilante, e está em constante atividade na mente humana que não teve experiência pessoal nos ensinos do povo de Deus pelos cinquenta anos passados. Alguns tomarão a verdade aplicável a seu tempo, e pô-la-ão no futuro. Acontecimentos, na sequência da profecia, que tiveram seu cumprimento no distante passado, são considerados futuros, e assim, por essas teorias, a fé de alguns é solapada.” (Mensagens Escolhidas, v. 2, p. 102).

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