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Os ciclos econômicos e a profecia

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Onde estamos no cronograma profético? Será que alguém realmente sabe? Mesmo estudantes dedicados da Bíblia e das profecias continuam a pesquisar. Existe uma lacuna na compreensão dos adventistas sobre os eventos entre 1844 e a promulgação das leis dominicais, dois marcos importantes no caminho para a segunda vinda de Cristo. Em meio a todas as perguntas, Deus não deseja que sejamos apanhados de surpresa (1Ts 5:4). No entanto, a questão permanece: como podemos saber que estamos chegando ao fim?

Há uma moldura conceitual que pode nos ajudar a preencher a lacuna entre 1844 e os eventos finais. Um elemento no estudo dos acontecimentos proféticos que tem sido amplamente ignorado é a economia. O tema do dinheiro é frequentemente encontrado na Bíblia, e as finanças mundiais se entrelaçam com a profecia tanto do passado quanto do futuro. Com a política econômica dominando os processos de decisão da maioria dos governos de hoje, seu impacto não pode ser esquecido na avaliação de eventos geopolíticos, ação militar, legislação e até mesmo da religião. O dinheiro exerce uma influência real e direta em nossa vida.

Analisando o mundo das finanças, conseguimos ter uma visão melhor de onde estamos no fluxo de eventos proféticos. Um estudo dos ciclos econômicos pode nos ajudar a relacionar os acontecimentos proféticos do passado, a turbulência financeira de hoje e os conflitos que estão para explodir. A convergência da economia e da profecia pode nos ajudar a responder à pergunta: “Onde estamos no cronograma?” Esse pode ser o fio para nos ajudar a unir muitas partes de nossa compreensão profética.

O ciclo de Kondratieff e 1844

Na década de 1920, um jovem economista russo chamado Nikolai Kondratieff estudou os ciclos econômicos de longo prazo. Enquanto o ciclo econômico típico abrange de 3 a 5 anos, incluindo crescimento, estagnação e recessão, Kondratieff observou que há ciclos econômicos mais longos, que abrangem de 50 a 70 anos. Esses ciclos, assim como a versão mais curta, passam pelo crescimento, a estagnação e o declínio, mas não são fenômenos regionais, e sim de alcance global.

Finalmente, esses ciclos foram caracterizados como estações. Primeiro, há a primavera econômica e então o verão, quando as economias do mundo crescem bem. Essa fase é seguida por um período de estagnação, descrito como outono econômico. Finalmente, vem o inverno econômico, que tipicamente inclui crises devido às dívidas, quebras do mercado de ações, depressões, guerras mundiais e mudanças de regime nos governos.

Em 1938, Kondratieff foi executado por Stalin pelo fato de suas ideias serem opostas às teorias comunistas. Após sua morte, outros continuaram o trabalho de Kondratieff sobre esses ciclos econômicos longos. Hoje tais ciclos são chamados de ciclos de Kondratieff ou ciclos longos. O gráfico mostra os quatro ciclos econômicos que ocorreram desde o fim do século 18, indicando o ano em que cada um desses ciclos terminou e um novo começou.

Naturalmente, como adventistas, nossa atenção é logo atraída para a data de 1844, que assinala um evento muito significativo no início do nosso movimento. O ano de 1844 representa o fim do primeiro ciclo cheio do século 19. O período de cerca de 1837 a 1844 foi considerado um inverno econômico. Houve profunda depressão, guerras e turbulência política. Uriah Smith, em seu livro sobre Daniel e Apocalipse, indicou que em 1840 o regime otomano chegou ao fim, de acordo com a profecia.

Nesse ambiente, Guilherme ­Miller começou a pregar que a segunda vinda de Jesus estava próxima. Podemos inferir que a triste condição do mundo, incluindo a turbulência financeira, abriu caminho para o sucesso de Miller. É claro que o poder do Espírito Santo era a verdadeira fonte de seu êxito, mas poderíamos dizer que as sementes haviam sido plantadas em solo fértil. As pessoas estavam mais receptivas às mensagens espirituais e a um apelo ao arrependimento. Assim, no fim da profecia das 2.300 tardes e manhãs, em 1844, um dos ciclos longos de Kondratieff chegou ao seu termo.

A Revolução Francesa e a profecia dos 1.260 dias

Vamos considerar o início do primeiro ciclo, em 1789. O maior evento que ocorreu naquele ano foi o começo da Revolução Francesa. Mais uma vez, esse evento foi precipitado pelas terríveis condições econômicas da classe camponesa, que se revoltou contra a aristocracia. Como resultado da Revolução Francesa, o papa Pio VI foi preso e exilado por Berthier, general de Napoleão. Esse ciclo também chegou ao fim com o cumprimento de outra importante profecia de tempo: os 1.260 dias de Daniel.

Em 1776, durante o inverno econômico que conduziu à Revolução Francesa, foi assinada a Declaração de Independência dos Estados Unidos. “Nenhum imposto sem representação” foi o grito do povo norte-americano que lutava sob a opressão financeira imperial britânica. O Exército Continental se envolveu em uma guerra com o exército britânico, a qual terminou com a assinatura do tratado de Paris em 1783. Assim, outra grande profecia, a ascensão da besta de dois chifres retratada em Apocalipse 13, foi cumprida durante esse inverno econômico. O fim de cada um desses ciclos econômicos e eventos históricos significativos corresponderam ao cumprimento de grandes profecias. Vamos conferir o novo ciclo para ver se esse padrão continuou.

O ciclo seguinte de Kondratieff terminou por volta de 1896, após uma longa e prolongada recessão econômica de mais de 20 anos. Em meio a esse mal-estar econômico, a igreja teve sua “experiência de 1888”. A pregação sobre a justificação pela fé devia ser acompanhada pelo derramamento da chuva serôdia. Em Mensagens Escolhidas (v. 1, p. 363), Ellen White declarou: “O alto clamor do terceiro anjo já começou.” Deus estava atuando para capacitar sua igreja a fim de terminar a obra e possibilitar a segunda vinda de Cristo. Mas a igreja não estava preparada para receber essa bênção especial.

O pânico de 1873

Protesto nos Estados Unidos durante a Grande Depressão econômica. Foto: Wikimedia Commons

 

A análise dos eventos que deram ­início ao inverno de Kondratieff das décadas de 1870 a 1890 pode ser esclarecedor para os adventistas hoje. Esse ciclo começou com o pânico de 1873, um colapso dos mercados financeiros que originou a “longa depressão”. Esse período durou mais de cinco anos e é o mais longo registrado, superando a grande depressão da década de 1930. Mesmo depois que a depressão terminou, com frequência a nação entrou em recessão nos 20 anos seguintes.

No período pós-guerra civil americana, foi feito um tremendo esforço de reconstrução nacional. Uma das “novas tecnologias” promissoras foi a ferrovia. Pensava-se que a estrada de ferro pudesse cruzar o país para ajudar a transportar pessoas e bens, promovendo o crescimento econômico. A oportunidade parecia atraente, levando muitos a investir pesadamente na construção da rede ferroviária. Esperava-se que a ferrovia trouxesse prosperidade à nova nação. Porém, assim como o investimento em ações de empresas com base na internet levaram à crise de 2000, e a bolha imobiliária levou à grande crise financeira de 2008, a promessa de prosperidade desapareceu à medida que a bolha explodiu, deixando um rastro de dívidas impagáveis e sonhos desfeitos.

O pânico de 1873 começou quando J. Cooke e Co, uma instituição bancária que investiu pesadamente em ferrovias, não conseguiu pagar sua dívida e faliu. Isso desencadeou uma crise financeira, pois os depositantes, temendo perder seu dinheiro, iniciaram uma corrida aos bancos para retirar os recursos. Os mercados de ações caíram e o sistema bancário ficou fechado por dez dias. A situação foi semelhante ao que ocorreu em 2008, quando o banco de investimentos Lehman Brothers declarou falência. No entanto, ao contrário de hoje, no fim dos anos 1800 não havia nenhuma Reserva Federal dos Estados Unidos para socorrer as instituições financeiras. A recuperação foi lenta e dolorosa.

Ainda no ano de 1873, um grupo de mulheres se reuniu para compartilhar a preocupação com o declínio moral na América. Vícios como bebida alcoólica, prostituição e jogos de azar, bem como outros crimes, estavam aumentando. Elas formaram a União Feminina de Temperança Cristã, num esforço para devolver ao país seus valores cristãos. Em 1876, elas buscaram o apoio de um jovem senador dos Estados Unidos chamado William Blair. Juntos, procuraram promulgar uma lei para fechar salões e bares. Tiveram algum sucesso, mas a moralidade da nação não melhorou.

Em 1888, Blair iniciou um novo esquema para lidar com a baixa condição espiritual da América. Ele levou ao Senado um projeto de lei que propunha um dia comum de adoração para todos os cidadãos. Uma “lei dominical” deveria determinar um dia para adoração! O senador ­voltou-se para a União Feminina de Temperança Cristã, entre outros, em busca de assinaturas em uma petição para esse fim. Quinze milhões de assinaturas foram coletadas, ou seja, cerca de metade da população dos Estados Unidos na época!

Muitos adventistas estão familiarizados com esse evento. A Igreja Adventista, ainda relativamente jovem como denominação na época, se opôs a esse projeto de lei e enviou um de seus ministros, Alonzo T. Jones, para uma audiência no Senado. Ele foi preparado especialmente por Deus para atender a essa emergência, pois o Senhor lhe concedeu memória fotográfica e capacidade para recitar, de memória, passagens de livros de direito. Como premissa para seus argumentos, ele usou o texto da Bíblia que diz: “Dai, pois, a César o que é de César e a Deus o que é de Deus” (Mt 22:21), e obteve êxito em sua batalha contra esse projeto de lei.

A ameaça da lei dominical declinou, e o mesmo ocorreu com a oportunidade de a igreja receber a bênção prometida do Espírito Santo. Na década seguinte, os reavivamentos foram recebidos com corações frios, orgulho e egoísmo, e o Espírito de Deus foi repetidamente rejeitado. O segundo ciclo de Kondratieff do século 19, concluído em 1896, manteve a promessa de outra profecia a ser cumprida, o esperado retorno de Cristo. Mas a igreja não estava pronta para receber a chuva serôdia, e o ciclo findou sem a realização dessa esperança. Embora esse ciclo tenha terminado em oportunidades perdidas, podemos nos beneficiar da experiência da igreja daquela época. Podemos reconhecer os padrões que ocorreram e compará-los às condições de hoje.

O que poderia ter sido

Em 1903, Ellen White recebeu uma visão na qual observou a igreja submissa ao poder do Espírito Santo e unida sob um espírito de amor e perdão. Infelizmente, era apenas uma visão do que poderia ter acontecido na assembleia da Associação Geral de 1901. Com tristeza, Ellen White escreveu o artigo “O que poderia ter sido” lamentando essa oportunidade perdida. Além disso, ela publicou vários outros artigos na Review and Herald recordando o fracasso de Israel em entrar na Terra Prometida. Seu sentimento foi de que parecia tarde demais para o Senhor voltar.

Ao examinar o ciclo seguinte de Kondratieff, começando em 1896 e terminando em 1945, podemos ver as razões da tristeza de Ellen White. Durante esse ciclo, o planeta foi testemunha de um terrível derramamento de sangue diferente de qualquer coisa ocorrida. A Primeira Guerra Mundial, a Revolução Russa, a Segunda Guerra Mundial, o Holocausto, a bomba atômica, a Revolução Chinesa, a Guerra da Coreia e muitos outros conflitos marcaram essa era. Grande parte da população mundial ficou trancada atrás de fronteiras hostis ao cristianismo. A perda de vidas foi insuportável, e as guerras e tensões internacionais também criaram um ambiente hostil à difusão do evangelho. Talvez essa fosse a razão para a grande tristeza revelada no artigo “O que poderia ter sido”. Enquanto os três longos ciclos anteriores terminaram em grandes eventos proféticos, esse ciclo terminou em 1945, sem a oportunidade de finalizar a pregação do evangelho.

O inverno de Kondratieff

Isso nos leva ao ciclo atual. O fim da Segunda Guerra Mundial deu início a uma era de prosperidade sem precedentes. Enquanto o Plano Marshall ajudou a reconstruir as economias de guerra, os Estados Unidos se beneficiaram de seu dinamismo econômico. A primavera e o verão de Kondratieff floresceram durante 30 anos, dando à luz a burguesia da classe média americana. Porém, enquanto os Estados Unidos desfrutavam da riqueza durante os governos Reagan e Clinton, o ciclo de Kondratieff mudou silenciosamente para o outono. As economias começaram a estacionar. O nível da dívida teve um crescimento acentuado. No ano 2000, o estouro da bolha tecnológica inaugurou o inverno de Kondratieff, e ainda hoje estamos experimentando seus efeitos.

As previsões para o fim desse ciclo são por volta do ano 2020. Se esse padrão for mantido, as condições do mundo declinarão rapidamente. Podemos ver muitas ameaças e desafios convergentes hoje, fazendo com que a previsão pareça bastante plausível. As tensões políticas estão aumentando em várias partes do mundo. As notícias estão cheias de histórias de terrorismo e crises dos refugiados políticos. Os mercados de ações também podem ter fortes instabilidades. Mas dessa vez os bancos centrais não têm munição para socorrer as empresas. Os estágios finais de um severo inverno de Kondratieff parecem estar sobre nós.

Os trabalhadores são poucos

O ponto crítico para os adventistas hoje, no entanto, não é que estamos em um inverno de Kondratieff, mas sim que a história nos mostra que esses invernos econômicos são realmente tempos de colheita para Deus. É o momento em que as pessoas estão prontas para ouvir uma mensagem de esperança, sensíveis à compaixão e à graça. É o tempo em que a colheita é abundante. Poderia esse “inverno” ser uma oportunidade para terminar a grande comissão que nos foi dada por Jesus? O próprio Cristo lamentou que a colheita é grande, mas os trabalhadores são poucos (Mt 9:37). Infelizmente, parece que isso não mudou. A igreja cristã se encontra em estado de mornidão e indiferença. Ela desconhece sua verdadeira condição e não percebe os eventos ao seu redor. Não tem muita motivação para aproveitar as oportunidades.

Assim, a colheita amadurece, e Deus espera pacientemente que seu povo se mobilize para recolher o fruto das sementes plantadas há dois mil anos a um preço tão alto. O que Deus deve fazer, à medida que o tempo se torna curto? Será que Ele simplesmente espera que os trabalhadores se levantem? Vai esperar pacientemente à porta e bater até que ouçamos sua voz? Ou será que as batidas se tornarão mais insistentes e intensas para despertar seus trabalhadores por trás dessas portas? “Eu repreendo e disciplino a quantos amo”, diz a Laodiceia (Ap 3:19). Evidências sugerem que a repreensão e o castigo de Deus muitas vezes assumem a forma de uma crise financeira.

Ao considerarmos a evidência dos ciclos econômicos de Kondratieff e a história profética que os adventistas conhecem muito bem, vemos como somos afortunados e quanto é grande a responsabilidade que está diante de nós. Não devemos usar a ideia dos ciclos econômicos para marcar datas e especular sobre a volta de Jesus, mas podemos usar os acontecimentos para motivar um despertamento.

O apóstolo Paulo escreveu: “Irmãos, relativamente aos tempos e às épocas, não há necessidade de que eu vos escreva; pois vós mesmos estais inteirados com precisão de que o Dia do Senhor vem como ladrão de noite. Quando andarem dizendo: Paz e segurança, eis que lhes sobrevirá repentina destruição, como vêm as dores de parto à que está para dar à luz; e de nenhum modo escaparão. Mas vós, irmãos, não estais em trevas, para que esse Dia como ladrão vos apanhe de surpresa; porquanto vós todos sois filhos da luz e filhos do dia; nós não somos da noite, nem das trevas. Assim, pois, não durmamos como os demais; pelo contrário, vigiemos e sejamos sóbrios” (1Ts 5:1-6).

Você consegue ler os sinais ao seu redor?

TIMOTHY AKA é tesoureiro associado mundial da Igreja Adventista, em Silver Spring (EUA)

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