Gosto particularmente de tipologia bíblica – ver como os tipos encaixam histórica e profeticamente nos antítipos. Creio que isso ajuda muito a leitura e interpretação profética, ao mesmo tempo que dá indicações seguras quanto ao que está a acontecer e o que ainda acontecerá.
Como sabemos, a profecia indica que no tempo do fim existem dois poderes antagónicos que, de acordo com os últimos versos de Daniel 11, acabarão por lutar entre si: o rei do norte (papado romano, que nega Deus por usurpação) e o rei do sul (ateísmo, secularismo, que nega Deus por omissão), com prevalência final do primeiro.
Ora, o reino bíblico tipológico incorporado pelo papado romano é Babilónia; por sua vez, o reino bíblico tipológico incorporado pelo ateísmo é o Egito. O ponto crucial aqui é percebermos que Israel, o povo de Deus que também encontra paralelo tipológico no final da história, foi nos tempos bíblicos prisioneiro e escravo nestas duas nações: Babilónia (II Reis 25, Jeremias 25:11) e Egito (Êxodo 1:8-14, 12:40, 41). Sendo que há o entendimento que no final dos tempos como que todas as profecias se juntam para se cumprirem ou até mesmo cumprirem novamente, em repetição, será que isso indica que o povo de Deus deste tempo se deixará novamente enganar e “tomar cativo” pela Babilónia e Egito antitípicos?
A resposta é sim. A diferença é que, desta vez, o cativeiro não será físico mas ideológico, nos seus princípios, valores, doutrinas, sofismas e enganos.
Espantosamente, este raciocínio não se trata de qualquer profecia ou antevisão do que irá acontecer, mas apenas a descrição daquilo que temos já hoje diante dos nossos olhos. Veja-se a simpatia com que mesmo entre o povo de Deus se olha atualmente para o romanismo, em plena imitação do que já acontece entre o protestantismo caído. Se há alguns anos um pastor e articulista adventista escrevesse um artigo afirmando que a liderança adventista deveria aprender com o que o papa tem feito, ou um professor de teologia apresentasse aulas elogiando o papado e levando os seus alunos a participar de retiros e celebrações católicas, isso seria motivo para fazer soar todos os alarmes; mas hoje, isso acontece normalmente, parece ser merecedor de elogios e é alegremente patrocinado. Frases como “Roma já não é o que era”, normalmente atribuídas a protestantes apostatados, são hoje escutadas nos meios adventistas. Mais: nos tempos bíblicos, havia entre o povo escolhido de Deus, incluindo líderes, aqueles que profanavam o templo com imagens e adoração pagãs. Nesse tempo, algumas das práticas que o próprio Deus denunciou ao profeta incluíam veneração aos mortos (Ezequiel 8:14) e adoração ao sol (8:16). Sendo que estes são dois traços caraterísticos fundamentais do catolicismo romano, faça o paralelo tipológico e tire a conclusão óbvia…
E quanto ao ateísmo e secularismo? Poderá o último povo de Deus “aventurar-se” por esse caminho? Não apenas poderá como já o faz, não em segredo mas abertamente. Veja-se o desplante e o à vontade com que a agenda social de esquerda entrou e se instalou entre o povo adventista. O patrocínio e favorecimento da homossexualidade, que já vai ao ponto de termos pastores a ordenar anciãos homossexuais e a celebrar casamentos entre pessoas do mesmo sexo, bem como membros de igreja que são ativistas da mesma causa (a este propósito convém não confundir ações individuais de pessoas com a posição oficial e vinculativa da Igreja, que não reconhece este tipo de comportamento – o que descrevi são ações individuais); a dúvida lançada sobre o relato literal de Génesis 1 a 11 (ficou célebre aquela mãe que, em 2015 e publicamente, diante da igreja mundial, contou a história do seu filho que desde criança pequena até à Universidade sempre frequentou escolas adventistas e terminou a sua formação superior como ateu convicto, bem como o artigo numa publicação oficial da igreja a ridicularizar a crença numa criação em seis dias literais e consecutivos de 24 horas e a existência de um dilúvio universal); o questionamento de declarações e princípios bíblicos para defender doutrinas humanistas; a deturpação da clara orientação patriarcal das Escrituras (com as gravíssimas consequências administrativas que se avizinham), são apenas alguns exemplos que se podem citar.
Quer isto dizer que estamos todos “condenados” a cativeiro? Bom, usando do mesmo princípio de paralelismo tipológico, é claro que não estamos. Mesmo em meio a apostasia, há sempre aqueles que não dobram os joelhos a Baal nem o beijam (I Reis 19:18) e que se aborrecem, não compactuam, gemem e suspiram pelas abominações que se praticam (Ezequiel 9:4).
Diz a Escritura que “O que foi, isso é o que há de ser; e o que se fez, isso se fará; de modo que nada há de novo debaixo do sol” (Eclesiastes 1:9). Fica claro que uma boa maneira de percebermos o que acontece hoje com o povo de Deus é estudar a história do povo de Deus que está revelada na Bíblia.