Além da Dor

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O sofrimento faz parte da trajetória humana, mas algumas pessoas aprendem o caminho para transcendê-lo
A primeira fonte de ajuda para superar a dor e o sofrimento é Deus, e a segunda é você mesmo. Créditos da imagem: Fotolia

Todo bebê que chega ao mundo tem o poder de criar emoções e alterar rotinas em seu entorno. Porém, de uma hora para outra, com o surto de microcefalia, centenas de casais brasileiros viram o sonho de alegria ser transformado em motivo de apreensão. Se o Aedes aegypti, vetor dessa e de outras doenças, houvesse sido combatido com mais seriedade, a tragédia poderia ter sido evitada. Mas não foi. Assim, se todos nós estreamos na vida em meio a gritos, como se protestássemos contra as mudanças e o futuro incerto, esses bebês têm razões para chorar com mais sentimento.

Dor e sofrimento fazem parte da história da humanidade. Quantas faces foram banhadas ao longo do tempo? Quantas lágrimas rolam a cada minuto? Quantos corpos gritam de dor e quantos corações quebram o silêncio com gemidos fabricados pela matéria-prima do sofrimento? Para citar um aspecto, a Organização Mundial de Saúde catalogou 12.420 códigos de doenças humanas no ICD-10. Num universo de 7,3 bilhões de pessoas, milhões vivem todos os tipos de experiências negativas e aflições intensas. Em diferentes escalas, é como se fossem réplicas, em miniatura ou em tamanho real, do Jó original.

As perguntas a respeito do tópico têm variado. Seria a dor apenas uma ilusão? Se Deus é bom e poderoso, por que parece silencioso diante do mal e da dor? De onde vem a solução real para o sofrimento? Será que se refugiar em coisas como arte e filosofia resolve? É possível transformar a pessoa infeliz em feliz e a feliz em mais feliz? Temos o poder de alterar o padrão de nosso cérebro e o traçado do nosso destino emocional? Podemos controlar a memória e apagar as más lembranças? Se temos um “médico interior”, como disse Albert Schweitzer, por que ficamos doentes e conspiramos contra a própria felicidade?

De igual modo, as respostas são diversas. Para os antigos hedonistas, que associavam o bem com o prazer e o mal com a dor, devemos evitar o sofrimento e ter um estado de tranquilidade. Para os estoicos, o melhor é adotar uma postura de indiferença (por isso, Epiteto ensinou seus discípulos a dizer: “Dor, você não passa de uma palavra”). Para um negativista, a dor é inevitável e não há o que fazer. Para um otimista, incontáveis células trabalham para nosso bem-estar e podemos fazer o mesmo. Para um moderado, devemos ouvir a dor e descobrir o que o corpo quer dizer. Para um pragmático, a solução é pegar o sofrimento pelo pescoço e eliminá-lo. Para um teólogo-filósofo, o importante é entender a liberdade no contexto do conflito cósmico entre o bem e o mal e buscar a cura divina para nossa miséria.

O fato é que a dor, pessoal e intransferível, continua causando sofrimento e infelicidade. E ela afeta todos, sem distinção. Johann Sebastian Bach ficou órfão aos 10 anos. Edgar Allan Poe perdeu a mãe aos 3. Vincent van Gogh, o genial e atormentado pintor holandês, lutou contra a loucura e se matou aos 37. Edvard Munch, que sintetizou a angústia e o desespero em sua obra-prima O Grito, escreveu que “a Doença, a Insanidade e a Morte” foram os três anjos que embalaram seu berço.

Conforme disse Roberto Badenas no livro Facing Suffering (Safeliz, 2013), “se alguém disser que nunca sofreu, essa pessoa perdeu a memória”. Mas por que algumas pessoas desabam diante do sofrimento, enquanto outras desafiam a adversidade e tiram de letra os quesitos da arte de viver? As incríveis histórias de superação retratadas na matéria de capa desta edição, escrita pela jornalista Mariana Venturi, que acabou de se mudar para a Austrália, revelam alguns segredos e representam um ótimo incentivo para iniciar o ano.

A dor nossa de cada dia certamente pode ser potencializada por medo, ansiedade, tristeza, solidão, frustração, sentimento de fracasso e desânimo. Já a fé, a esperança, o amor, a perseverança e a resiliência podem ajudar a transcendê-la. A segunda melhor fonte de ajuda para superar a dor e o sofrimento somos nós mesmos. A primeira é Deus, com destaque para sua face humana, Jesus, que é “homem de dores” e “sabe o que é padecer” (Is 53:3). Apesar disso, como observou C. S. Lewis, “Deus não se importa de ser o último recurso para suas criaturas”.

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